terça-feira, 16 de outubro de 2007

Cinderela

A luz refletiu no rosto do homem e chegou aos olhos dela.
Ao receber aquele estímulo visual, seu cérebro interpretou-o como sendo compatível com os requisitos de beleza guardados em sua memória.
Ele se aproximou dela e começou a conversar.
Agora, além do estímulo visual, havia também o estímulo auditivo, que seu cérebro interpretava como sendo uma voz
masculina muito bela. As mudanças de frequência de sua voz produzia sons diferentes que o cérebro da mulher interpretava como palavras com significados, cujo conteúdo agradava-a muito.
Em breve, haveria o contato físico e os nervos táteis enviariam correntes elétricas ao cérebro, que por sua vez liberaria endorfina na corrente sanguínea e dar-lhe a sensação de prazer.
Não faltaria muito, então, para seu corpo produzir altas quantidades de neurotrofina.
Euforia, suor nas mãos, frio no estômago, aceleração cardíaca, bochechas rosadas, prazer, saudades,
dependência, etc.
Depois, passado um ou dois anos, os níveis de neurotrofina diminuiriam e se dirá que a paixão acabou.
Com sorte, a neurotrofina dará lugar à oxitocina e se dirá que o que ela sente é amor.
Apesar de pensar em tudo isso enquanto conversava com o homem, de lembrar de todas suas desilusões, de passar noites comendo chocolates enquanto falava "homem não presta" para uma amiga no telefone e de afirmar ser uma mulher independente, ela cedia.
Ela cedia, pois sabia que embora todas suas amigas queimassem sutiãs como forma de protesto feminista, nenhuma delas queimariam a história de Cinderela.

Um comentário:

KK disse...

Bom texto.
Sua escrita está cada vez melhor, Kiyo!!!!!!

Estou meio sumido, mas devo reaparecer em breve!