Um dia você acorda e percebe que seu corpo é de uma barata gigante.
Nada de mais - você pensa - é só uma metáfora, nada mais.
Então você se levanta, vai ao banheiro e, quando se olha no espelho, enxerga uma ampulheta.
É neste exato momento que você percebe que o tempo não existe, apesar de existir, e ao tomar conhecimento deste fato, você sente, não uma náusea, mas A Náusea.
O pior é que ela aumenta.
Aumenta tanto que você sente como se a civilização estivesse em seu interior, e todo mal estar desta embrulha o seu estômago.
Você espera ela passar, pois não há mais nada a fazer.
Aos poucos ela diminui, e seu corpo já não é uma barata, nem seu reflexo, uma ampulheta.
O tempo volta a passar.
Ainda meio atordoado, você vai à cozinha tentar tomar seu café da manhã.
O problema, porém, é que ao redor da mesa encontram-se massas orgânicas que mentem compulsivamente para todos e para elas próprias.
Você tenta ignorar, se dirige ao liquidificador e, apesar de desejar colocar a própria cabeça no copo, você coloca todos os livros que leu, todas suas memórias, todos seus momentos, seus sonhos, seus sentimentos, seus conhecimentos e o tempo, para dar um tempero.
A cor da pasta que se formou neste caldeirão de bruxa não é muito agradável, mas você engole do mesmo jeito.
É só então, só então que você percebe que não é tão ruim assim.
Aliás, pelo contrário, o gosto te agrada e você pensa:
Nada de mais - você pensa - é só uma metáfora, nada mais.
Então você se levanta, vai ao banheiro e, quando se olha no espelho, enxerga uma ampulheta.
É neste exato momento que você percebe que o tempo não existe, apesar de existir, e ao tomar conhecimento deste fato, você sente, não uma náusea, mas A Náusea.
O pior é que ela aumenta.
Aumenta tanto que você sente como se a civilização estivesse em seu interior, e todo mal estar desta embrulha o seu estômago.
Você espera ela passar, pois não há mais nada a fazer.
Aos poucos ela diminui, e seu corpo já não é uma barata, nem seu reflexo, uma ampulheta.
O tempo volta a passar.
Ainda meio atordoado, você vai à cozinha tentar tomar seu café da manhã.
O problema, porém, é que ao redor da mesa encontram-se massas orgânicas que mentem compulsivamente para todos e para elas próprias.
Você tenta ignorar, se dirige ao liquidificador e, apesar de desejar colocar a própria cabeça no copo, você coloca todos os livros que leu, todas suas memórias, todos seus momentos, seus sonhos, seus sentimentos, seus conhecimentos e o tempo, para dar um tempero.
A cor da pasta que se formou neste caldeirão de bruxa não é muito agradável, mas você engole do mesmo jeito.
É só então, só então que você percebe que não é tão ruim assim.
Aliás, pelo contrário, o gosto te agrada e você pensa:
A vida é assim.
Depois de tomar sua poção mágica, você olha novamente para a mesa e vê sua família.
Essa visão esculpe um sorriso em seu rosto.
E com o sorriso, você vai à janela e olha o mundo.
Mesmo estando claro, você sente de alguma forma que pode enxergar no escuro.
O mundo é assim - você diz para si mesmo.
Então, você sai de casa para caminhar e, no caminho, vê uma árvore sem folhas.
O que te espanta é o fato de você achar bonito.
Você direciona o olhar para o céu e o acha bonito. Cinza, azul, branco, vermelho, tanto faz, é bonito.
Você continua sua caminhada até o parque, onde você se senta em um banco para ver as crianças brincarem.
Vê-las assim a brincar é como a vida sorrisse para você.
Um sorriso singelo, mas que embrulha você em um sentimento sem nome e te faz dizer:
A vida é assim.
Só porque eu digo que ela não tem sentido nenhum, não quero dizer que não vale a pena ser vivida.