segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Paciente 333

Nota para os desavisados: este conto faz referência a esta estranha e verídica notícia


Três tiros, um dois três, bang bang bang.
Achei a resposta do porquê meu pai conseguiu se matar com três tiros na cabeça.
Dezesseis anos depois, achei a resposta. Achei e vim parar aqui, neste lugar de merda.
Merda, merda, merda. Manicômio de merda.
Bala no córtex motor, plausível. Possuído pelo diabo, beleza. Anomalia neuromotora congênita, é uma boa. Agora, fantasia literária?! Nãããão, você é louco, louco, louco.
Mas eu tô te falando. Você tem de acreditar em mim, você tem, tem sim.
Ele conseguiu botar três balas na cabeça porque ele é um personagem fictício. Meu pai. Meu querido pai, papaizinho é uma fantasia literária e não precisa obedecer as leis físicas.
Eu também sou. É, sou sim. Euzinho, filho primogênito de Robert Thompson, sou um devaneio literário, sou meramente feito de palavras. E só estou falando o que estou falando porque meu autor quer que eu diga estas palavras. Você acha que é merda coincidência meu pai se matar com três tiros na cabeça e eu ser o paciente 333?
Mas como não acredita em mim? Há, e ainda me insulta?
Você nem ao menos aparece no texto, seu merda! Eu sou o personagem principal desta história, assim como meu pai também foi um. Ninguém sabe quem você é! Ninguém, ninguém, tá, ninguém! Nin... mas como assim, você sou eu?
Não, não pode ser, eu não estou falando sozinho, não, não eu, eu não sou louco! Louco era meu pai que meteu três balas na cabeça quando eu tinha sete aninhos!
Não, não, não, espere aí. Calma, cara. Eu sou só um personagem. Nada disso é real. Sou só um personagem e nada disso é real. Só um personagem e nada, olá, enfermeira, como vai?
Eu não, não, eu não estava gritando sozinho... Mas, mas... Ah, mas nem é tão tarde assim! Ah, vai, por favor, eu prometo... só desta vez... não, injeção não! Injeção não! Não, você não é real, não é real! É só uma personagem que o autor inventou agora para fuder com minha vida! Não! Ah, socorro, me solta! Eu quero uma arma! Papai!