quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Função poética










Afinal, o que seria da palavra se não houvesse a poesia?











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Feliz natal e um 2009 mais poético aos leitores deste blog.


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Propostas Artísticas


Proposta 1:
Na parede do banheiro feminino de uma galeria ou museu, colar o seguinte aviso:
"No banheiro masculino, há uma obra de arte que você jamais conhecerá ao vivo."
Fazer o mesmo no banheiro masculino, obviamente apenas trocando "masculino" por "feminino"


Proposta 2:
Enviar um envelope para a seleção de obras para uma exposição.
O curador, ao abrir o envelope, ativa um mecanismo que inicia uma combustão leve e o envelope queima em suas mãos.
Assustado, ele joga o objeto em chamas no chão e assiste, perplexo, àquele espetáculo.
Após a queima total do papel, sobra, entre as cinzas, uma placa metálica onde se lê as seguintes palavras:

"E agora, José? 
A festa acabou, 
a noite esfriou, 
não veio a utopia 
e tudo acabou 
e tudo fugiu
e tudo mofou,
E agora, José?

Sua gula,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?"

Nota: Se possível nesta proposta, enviar um ajudante, faxineiro, outro curador, artista, conhecido, o que for, e mandá-lo filmar toda a performance espontânea do curador sem que ele saiba. Depois, enviar o vídeo para a seleção.


Proposta 3:
Enviar uma obra com uma carta explicando todo o conceito por trás dela para uma grande exposição.
Quando sua obra estiver exposta há algumas semanas e já apareceu em canais de mídia, fazer uma performance, uma vídeo projeção, ou outra coisa de sua preferência, no local da obra, mostrando que não havia conceito nenhum além deste, que é provar que não havia conceito algum.


Proposta 4: 
Colocar, secretamente, laxante nos bebedouros e em cada café servido em uma exposição e colar, na parte interna da porta do banheiro, em uma altura confortável para se ler sentado no vaso sanitário, a seguinte nota:
"O que você está fazendo neste momento, você pensa que é de sua autoria e seu vizinho(a) de cabine está fazendo e pensando o mesmo. O que vocês ainda não sabem é que vocês fazem parte de uma obra de minha autoria. Portanto, anime-se, você está fazendo arte."


Proposta 5:
Pintar um quadro expressionista no pára-brisa e riscar com uma chave, ou outro objeto pontiagudo de sua preferência, em cada carro parado no estacionamento de uma exposição de sua escolha as seguintes indagações:
"Quanto vale a arte? O quanto a arte te incomoda?"


Proposta 6:
Escolher um visitante aleatoriamente e, discretamente, jogar tinta em suas costas e colar um adesivo onde se lê: "Sou uma obra de arte."


Proposta 7:
Um pequeno pedestal, aparentemente vazio, em meio a diversas esculturas.
O visitante se aproxima e vê um pequeno papel sobre o pedestal.
Presta mais atenção e percebe que é um bilhete, onde se lê:
"Pegue um clip de papel, entorte-o de maneira a criar um volume que pare de pé, traga-o para esta exposição, posicione-o sobre este pedestal e jogue fora este bilhete. Apesar de ser você quem fez a escultura, quem ganhará os créditos e será citado como autor desta obra sou eu. Haha."



quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O Imortal


Ele é um milagre. 

Assim disseram os bombeiros, quando o tiraram com o coração ainda pulsando das ferragens de um recém ex-automóvel. 

Ele é imortal. 

Assim disseram os médicos, quando reconstruiram cirurgicamente várias partes, incluindo vitais, de seu corpo. 
Quando aquele homem acordou, após um coma de três anos, todos os funcionários do hospital foram visitá-lo. Durante seu longo sono, foi notícia de jornal, capa de revista médica, assunto de programas de bizarrices e a lenda mais famosa daquele ambulatório. 
Agora, três anos depois de seu acidente, quando abriu os olhos, novamente virou o assunto mais comentado, ao menos daquele hospital, por duas semanas, mas o mundo já o havia esquecido e a recíproca era verdadeira.

Ele esquecera o mundo.

Olhou-se no espelho e não reconheceu sua fisionomia.
Passou a mão na barba por fazer e não se recordava daquela sensação áspera.
Por fim, olhou no fundo daqueles olhos do outro lado do vidro, contudo, rapidamente desviou seu olhar. Algo naqueles olhos desconhecidos o incomodava profundamente.
Não tinha carteira, documentos, endereço, telefone, não tinha nome nem idade e nenhum parente ou amigo foi visitá-lo nestes anos. 
Era um ninguém.
Procuraram em bancos de dados de pessoas desaparecidas, em bancos de dados de pessoas não desaparecidas e até em bancos de dados de pessoas falecidas. 
Nada.
As teorias que os curiosos propunham era que ele era um estrangeiro foragido, ou que ele vinha do sertão sem lenço sem documento, ou até mesmo que ele se materializou do nada. 

Nome?
Não sei.
País de origem?
Também não sei.
Idade?
...
Qual é a última coisa de que se lembra?
Cara, também não sei. Não me lembro de nada. Não sei nem ao menos porque estou neste hospital. O que aconteceu?

De todas as pessoas incomodadas acerca do mistério e da desconfiança daquele homem, de todas as pessoas obstinadas a descobrirem quem ele realmente era, ele, sem dúvida, era o mais.

Anos se passaram desde então.
O homem já tinha resolvido toda a burocracia para ser aceito pela sociedade, escolhera para si um nome qualquer, morava em um pequeno apartamento alugado e ganhava a vida fazendo traduções.
Contudo, a posse de tudo isto não diminuia o fato de não possuir um passado.
Além disso, vivia mergulhado em um tédio rotineiro e, por mais inédito que algo acontecesse em sua nova vida, nada lhe parecia surpreender. Possuía um incrível conhecimento de línguas e culturas, mas não fazia a mínima idéia do porquê. Tudo lhe parecia uma repetição de ciclos.
Cada dia mais incomodado e infeliz, buscou sua origem utilizando métodos convencionais burocráticos e não burocráticos e métodos não convencionais, de regressão e alucinógenos a quiromancia e mapas astrais.

Nada.

No desespero, começou a frequentar as mais diversas religiões até que, numa certa noite, sonhou com um estranho palimpsesto arquitetônico, uma surreal sobreposição de uma igreja cristã com um templo hindu, um mosteiro budista, uma mesquita islâmica e outras construções religiosas. Naquele lugar de seu inconsciente, em que diversos corpos ocupavam o mesmo lugar no espaço, todos os ícones, todos os anjos, santos, deuses, semideuses e orixás, eram espelhos. 
Ele via sua imagem em todos os lugares e sentiu a mesma sensação que teve ao despertar de seu coma.

Olhou-se no espelho e não reconheceu sua fisionomia.
Passou a mão na barba por fazer e não se recordava daquela sensação áspera.
Por fim, olhou no fundo daqueles olhos do outro lado do vidro, mas, desta vez, não desviou seu olhar.
Sentiu-se tragado para dentro dos olhos de sua imagem e ali, dentro daquele outro que era ele próprio, compreendeu a si mesmo.

Ele era imortal. Ele era um milagre.
Lembrou-se de sua vida, que era a história da humanidade. De todos os verbos que um homem é capaz, o único que não experimentou foi morrer.
Incapaz de criar um sentido para o mundo, incapaz de criar outros mundos e incapaz de fugir e de superar sua condição humana, de tempos em tempos criava um sentido para sua vida ao apagar, mesmo que temporariamente, sua memória, presenteando sua vida com a morte.
Como uma fênix, vivia diferentes vidas que se auto-extinguiam, mas sem nunca deixar de nascer com a mesma matéria com a qual morria.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Pela terceira vez, cada um com seus problemas

600 mil dólares, motor V8, 647 cavalos de potência, de 0 a 100km/h em menos de 5 segundos e mimimi. É este lindo e potente carro que David usa para descer a Rebouças todos os dias na hora do rush.

Helena compra hambúrgueres vegetarianos da mesma empresa que faz hambúrgueres não vegetarianos.

Bruno não consegue passar entre os carros com sua Harley Davidson.

Por ser descolada, alternativa e diferente, Adelaide se veste igual a outras milhares de pessoas descoladas, alternativas e diferentes.

Feliz por andar, com sua bicicleta, mais rápido que David e Bruno no trânsito de São Paulo, Ivan morreu atropelado por um taxista.

Cleiton, que buscava fama em programas de auditório, teve finalmente seu valor reconhecido ao ganhar um Darwin Awards.

Janete diz ser designer, mas usa fonte Comic Sans.

O hobbie de Juca é ir a exposições de arte. A única coisa que ainda o incomoda na arte contemporânea é não conseguir compreender o significado de extintores de incêndio estrategicamente posicionados em todos os museus.

Sem ter onde dormir nem o que comer, Jonilson comete um crime leve todas as noites para dormir na prisão.

Laura gosta de receber apresentações em power point com imagens de campo de refugiados e crianças famintas para sentir que ela não está tão mal assim.

Geraldo só para sai do Second Life para cuidar de seu pefil fake no Orkut.

Bete imprime tudo em papel reciclado. A tinta que ela usa, porém, é altamente tóxica.

Bernardo trai sua esposa com uma boneca inflável. E ainda paga motel.

Vilma, para melhorar a vida de todos os cidadãos, passa a maior parte de seu tempo elaborando projetos de leis para nomes de ruas que ainda não existem e dias especiais que não serão comemorados.

Edgar acredita que Star Wars é o melhor documentário já feito até hoje.

Filó achava a vida dura e pulou da janela, mas teve sua queda amaciada pelo corpo de um transeunte. Hoje, faz dois anos que ela está presa por homicídio.




Nota: todos os personagens deste texto são fictícios, qualquer semelhança com a realidade (não) é mera coincidência.


terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Carequismo

O Carequismo é um movimento ecológico surgido durante uma conversa informal de duas pessoas cabeludas de saco cheio de vegetarianos com postura de crentes evangélicos na primeira década do século XXI.
O movimento defende um utópico mundo em que todos são carecas por livre arbítrio por todas as vantagens que isto traria à humanidade, e pretende convencer as pessoas pelos seguintes argumentos:
  1. Cabelo atrapalha. Prende ali, alguém puxa de lá, cai na cara, entra no olho, etc.
  2. Cabelo dá trabalho. Corte que fica estranho, tintura que desbota, chapinha que não pode molhar, precisa lavar, hidratar, secar, passar condicionador, cera, gel, creme, etc.
  3. Cabelo mostra a idade. Todo mundo quer esconder um fio branco. Se não tem fio branco (nem de qualquer outra cor), não tem o que esconder.
  4. Economia de água. Todo mundo sabe que cuidar das madeixas é o que mais gasta água durante um banho. Calculando uma média de 15 minutos de banho com cabelo e de 5 sem, o consumo de água cairia de 135 para 45 litros.
  5. Economia de tempo. Menos tempo no banho, menos tempo secando o cabelo e passando poções mágicas, menos tempo no cabeleleiro. Estima-se que haveria um ganho útil de pelo menos cinco anos de vida sendo careca.
  6. Menos substâncias químicas. Menor exposição a produtos químicos, garantindo melhor qualidade de vida e menos poluentes despejados nos rios e mares.
  7. Mais roupas ecológicas. Já há gente que faz tecido com cabelo humano. Não precisariamos de campanha do agasalho se todo cabelo fosse transformado em roupas.
  8. Solidariedade com os carecas. Os desprivilegiados geneticamente passarão a se sentir privilegiados.
Olha, isso poderia até ser uma boa idéia e traria melhorar significativas em termos ecológicos, mas está aqui de palhaçada. Você lendo isso deve ter pensado em uma dúzia de contra argumentos, mas a questão é que se você convencer um vegetariano a virar adepto do carequismo, por favor, me avise.
Se você não entendeu o nexo entre o carequismo e o vegetarianismo, procure-me mais tarde. 
E antes de qualquer equívoco, isto não foi o manifesto carequista, sou cabeludo e como picanha.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Paciente 333

Nota para os desavisados: este conto faz referência a esta estranha e verídica notícia


Três tiros, um dois três, bang bang bang.
Achei a resposta do porquê meu pai conseguiu se matar com três tiros na cabeça.
Dezesseis anos depois, achei a resposta. Achei e vim parar aqui, neste lugar de merda.
Merda, merda, merda. Manicômio de merda.
Bala no córtex motor, plausível. Possuído pelo diabo, beleza. Anomalia neuromotora congênita, é uma boa. Agora, fantasia literária?! Nãããão, você é louco, louco, louco.
Mas eu tô te falando. Você tem de acreditar em mim, você tem, tem sim.
Ele conseguiu botar três balas na cabeça porque ele é um personagem fictício. Meu pai. Meu querido pai, papaizinho é uma fantasia literária e não precisa obedecer as leis físicas.
Eu também sou. É, sou sim. Euzinho, filho primogênito de Robert Thompson, sou um devaneio literário, sou meramente feito de palavras. E só estou falando o que estou falando porque meu autor quer que eu diga estas palavras. Você acha que é merda coincidência meu pai se matar com três tiros na cabeça e eu ser o paciente 333?
Mas como não acredita em mim? Há, e ainda me insulta?
Você nem ao menos aparece no texto, seu merda! Eu sou o personagem principal desta história, assim como meu pai também foi um. Ninguém sabe quem você é! Ninguém, ninguém, tá, ninguém! Nin... mas como assim, você sou eu?
Não, não pode ser, eu não estou falando sozinho, não, não eu, eu não sou louco! Louco era meu pai que meteu três balas na cabeça quando eu tinha sete aninhos!
Não, não, não, espere aí. Calma, cara. Eu sou só um personagem. Nada disso é real. Sou só um personagem e nada disso é real. Só um personagem e nada, olá, enfermeira, como vai?
Eu não, não, eu não estava gritando sozinho... Mas, mas... Ah, mas nem é tão tarde assim! Ah, vai, por favor, eu prometo... só desta vez... não, injeção não! Injeção não! Não, você não é real, não é real! É só uma personagem que o autor inventou agora para fuder com minha vida! Não! Ah, socorro, me solta! Eu quero uma arma! Papai!



quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Terroristas são alvo de carro-bomba

25/09/2008 - 19h17 - Atualizado em 25/09/2008 - 22h03
Da EFE, colaboração para a Folha Online

O grupo pacifista Peace on Earth reinvidicou nesta quinta-feira (25),
em uma ligação telefônica à EFE, a autoria do atentado com um carro-bomba executado na noite de ontem em um bairo residencial de Santoña, no norte da Espanha.

A explosão, que deixou
pelo menos 15 mortos e 22 feridos, tinha como alvo uma casa em que supostamente haveriam 11 integrantes do grupo separatista basco ETA, responsável pelos atentados que ocorreram na Espanha nesta semana. A polícia ainda não confirmou a veracidade desta informação, mas suspeitam que ela procede.

"Ainda estamos investigando, mas encontramos duas pistolas 9mm no local e, além disto, não haveria outro motivo para um grupo pacifista assumir a autoria de um atentado como este." declarou o chefe do departamento de criminalística local.

Na ligação, o membro, que não se identificou, do Peace on Earth declarou: "Faremos de tudo para que haja paz, nem que para isto tenhamos de agir com violência. Se é preciso exterminar todos membros do ETA para que eles parem com os atentados, nós o faremos. Se tivermos de derramar sangue inocente para isto, é um preço a pagar para atingir um bem maior."

As autoridades e a população condenaram o ato do grupo Peace on Earth, que possui membros em diversos países. A polícia ainda não encontrou nem prendeu os responsáveis, mas três de seus integrantes, segundo fontes, foram mortos por civis que não possuem ligação direta com nenhum dos dois grupos. Os assassinos se entregaram à polícia e disseram não tolerar o derramamento de sangue inocente, já que 4 dos mortos e os 22 feridos na explosão não possuiam ligação direta com o ETA.

O presidente dos EUA, George Bush, qualificou o evento de "atos odiosos de insensata violência" e já ofereceu ajuda militar para garantir a paz na região em reunião com o premier espanhol José Luis Rodríguez Zapatero.



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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Bodas de Ouro


- Sua bruxa!
- Seu broxa!


sábado, 13 de setembro de 2008

Falsas notícias circulam pela internet

Sábado, 13 de setembro de 2008, 18:03 - Notícias Terra

Desde o boom da internet, falsas notícias contaminam a rede. Correntes alertando coisas que não existem, blogueiros que inventam notícias que tentam se passar por verdadeiras e que usam falsamente o nome de grandes agências de jornalismo, boatos espalhados sobre morte de celebridades que estão saudáveis. Toda pessoa que utiliza a internet com frequência certamente já acreditou em algum boato criado por usuários da rede.

O perigo que aí reside é que, às vezes, o bom senso não é suficiente para discernir o confiável do falso, uma vez que sabendo se utilizar da linguagem jornalística e baseando os argumentos em fatos estatísticos ou em nomes de formadores de opinião, o autor da notícia consegue facilmente convencer o leitor de algo que nem sempre é verdadeiro.

Para se ter uma idéia da quantidade de falsas notícias na internet, pesquisas feitas pelo Instituto de Estatística e Gestão da Internet mostram que cerca de 72% das estatísticas que circulam em sites não confiáveis são inventadas.

O pior, porém, é que a rapidez e o baixo custo de comunicação oferecidos pela Internet têm gerado não só um infindável número de boatos eletrônicos repassados entre usuários crédulos. Grandes companhias também têm divulgado falsas notícias, as quais são vendidas como se fossem verdadeiras. Nas últimas semanas, sites como Yahoo, The Register, IDG News Service, The Standard Industry e outros foram "apanhados". As informações são do site InfoGuerra.

No dia 15, o Yahoo noticiou que a Microsoft tinha admitido a existência de uma senha secreta em seus servidores IIS. A informação foi dada como uma descoberta recente. Além de não ser verdadeira, já tinha sido divulgada há mais de um ano (!) pelo Wall Street Journal.

O fato obrigou a Microsoft a publicar uma nota em seu site desmentindo a informação e apontando o que de real existe na história: uma vulnerabilidade do IIS, que não tem nada a ver com senhas secretas. A empresa também solicitou que o Yahoo retirasse a notícia do ar, no que foi atendida. Mas a página com o espaço vazio ainda pode ser vista.

Na primeira semana de maio, o site britânico The Register divulgou a história de que a BBC fora vítima de um hacker, o qual teria postado no site da conhecida agência uma falsa notícia sobre a morte de uma artista pop. Depois disso, a informação saiu no IDG News Service, The Standard Industry, SecurityNewsPortal e alguns outros.

Tudo não passou de um trote. Na época, InfoGuerra entrou em contato com a repórter de The Register, que admitiu que tinha sido enganada por um velho truque da Internet e havia cometido um erro básico em jornalismo: recebeu a informação de uma fonte e divulgou-a sem checar com outras. Posteriormente, The Standard Industry, um dos divulgadores do boato, esclareceu-o.

Alguém forjou uma página da BBC, usando um artifício do protocolo hipertexto para autenticação de senhas em sites protegidos. O diferencial é o sinal de arroba que normalmente passa a fazer parte do endereço, algo como http://nome_do_usuario:senha@www.nome_do_site.com. Aproveitando-se desse artifício, é possível criar uma falsa página, colocando-a no lugar do nome do usuário e utilizando o endereço de um site verdadeiro.

O truque pode ser visto numa hilariante página fictícia da própria BBC, que anuncia, com fotos, a trágica morte do coelho da Páscoa. Clique em http://news.bbc.co.uk!articles@3276960428/hi/english/uk/newsid/123456.htm para acessá-la (usuários de Mac devem clicar aqui).

Outro exemplo semelhante é o de uma página falsificada da CNN contando a história de um obscuro homem chamado Coby Santos, convidado para fazer parte do próximo filme de James Bond, ao lado de figurões como Pierce Brosnan, Anthony Hopkins e Catherine Zeta-Jones. A página foi criada em fevereiro deste ano e ainda está no ar. Clique aqui para vê-la.

No ano passado, um grupo humorístico espalhou o boato de que havia sido criado um servidor alimentado por batatas. Vários sites importantes caíram na pegadinha e publicaram a história. O site brasileiro Magnet, que teve a dignidade de se admitir entre os enganados, possui a matéria.

Como se vê, é muito fácil forjar notícias utilizando recursos tecnológicos trazidos pela Internet. E as empresas de comunicação, sempre ávidas por novidades, muitas vezes "vendem o peixe como lhes foi passado". Já que a Internet facilita o acesso à informação, é aconselhável usá-la também para checar as notícias, antes de divulgá-las.

Giordani Rodrigues

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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Pandas são estuprados em cativeiro na China

Qua, 10/09/2008 por Redação

Um funcionário chinês que trabalhava no Centro de Criação e Pesquisa de Animais Protegidos da Província de Shaanxi foi encontrado morto e nu na manhã desta terça-feira em uma jaula onde uma panda fêmea estava em observação.

Segundo a polícia local e os funcionários, as roupas estavam dobradas do lado de fora da jaula e foram encontrados vestígios de sêmen em Niu Niu, a panda fêmea, deixando claro que o homem teve relações sexuais com o animal.

"Niu Niu estava em observação por ter tido um comportamento agressivo. Provavelmente ela se sentiu ameaçada quando foi molestada e acabou matando-o." disse à agência Chi Yang Zhou, um dos veterinários do Centro.

O bizarro caso só foi realmente esclarecido nesta quarta, quando um dos seguranças que também trabalhava no local se entregou à polícia e confessou ter participado da zoofilia.

Segundo sua declaração, os dois já agiam a cerca de um mês. Todas as noites, ele desligava as câmeras de segurança e os alarmes para poderem entrar no ambiente dos pandas e terem relações sexuais. Na última noite, Mei-Hua, o falecido funcionário, teria tentado obter sexo oral de Niu Niu e teve seu pênis arrancado e sua cabeça, pisoteada pelo animal. O segurança, assustado, fugiu em seguida.

O motivo que os levou a cometer tal ato, ainda segundo sua declaração à polícia, é que queriam engravidar os pandas para salvar a ameaçada espécie da extinção. Aparentemente, os dois não sabiam que não é possível um ser humano engravidar um ser vivo de outra espécie. O segurança aguarda o julgamento na prisão e Niu Niu continua em estado de observação, mas passa bem.

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domingo, 7 de setembro de 2008

Homem se suicida com 3 tiros na cabeça

Dom, 07 Set, 13h34 - Atualizada às 18h27

MONTREAL, Canadá (AFP) - Um homem de 46 anos se suicidou na manhã de hoje na cidade de Montreal, Canadá, com inacreditáveis três tiros na própria cabeça. O fato foi testemunhado por cerca de vinte e cinco pessoas que estavam no parque Lafontaine, local onde o empresário Robert Thompson se matou.

"Eu vi com meus própios olhos.", disse Rebecca Laffite, policial que fazia ronda no parque, "Na hora eu não acreditei, ele estava tão sereno sentado no banco. Quando tirou a arma do bolso e apontou para a própria cabeça, não tive tempo de fazer nada. Depois que deu três disparos, eu não conseguia acreditar. Fiquei sem reação. Ainda acho que é impossível."

Segundo a família do empresário, Robert, que deixou mulher e dois filhos, um de 7 e outro de 2 anos de idade, não apresentava intenções de se matar. "Estávamos numa fase boa, tanto financeiramente como o bem estar de nosso lar. Robert era um homem feliz e altruísta, eu não sei porquê ele faria algo assim.", declarou a esposa, Daphne Thompson, em entrevista para a AFP. Amigos e outros familiares também desconhecem o que o levou a cometer este ato.

Segundo a polícia local, a pistola calibre 38 utilizada no suicídio não apresentava falhas, o que exclui disparo acidental de três projéteis. "Todas as evidências nos leva a crer que todos os disparos foram intencionais, embora isso seja tecnicamente impossível. Temos uma teoria de que a segunda bala, que atingiu o córtex motor esquerdo, a parte do cérebro responsável pelos movimentos da mão direita, teria ocasionado um espasmo que disparou o terceiro projétil, mas não sabemos o que ocasionou o segundo. Isto é um mistério para a ciência.", disse Wilson Garner, chefe do departamento de perícia criminalística de Montreal.

O surpreendente caso chamou a atenção de pessoas do mundo inteiro. Já há neurologistas de diversos países requisitando o cérebro de Robert para estudos científicos e teologistas declarando que Robert estaria possuído pelo demônio em si no momento de sua morte. A especulação sobre a morte do empresário já contamina diversos fóruns e blogs da internet.

Outro fato curioso é que foi encontrado na cena do crime um biscoito da sorte quebrado e um pedaço da mensagem rasgada que estaria contida em seu interior e onde se encontra a palavra "futuro". Ainda não foi encontrado o resto da mensagem nem se sabe se há nem qual é a relação entre esta e o suicídio.

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segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Paciente 212


- Olhe, aqui está a nova planilha do 212.
- Como assim, nova planilha? Ontem me disseram a mesma coisa...
- Ah, você deve ser o novo enfermeiro, não é?
- Isso, entrei há três dias.
- Bom, fiz uma nova porque o 212 tem alguns probleminhas, sabe...
- É, acho que sim, senão não estaria aqui. Mas por que uma planilha nova por dia?
- Imagine que antes de vir parar aqui, ele começou a tomar uns remédios para dormir e viciou.
- E daí?
- E daí que, para compensar o sono, ele começou a tomar um monte de café e coca cola e viciou.
- Hmmmm.
- Daí ele começou a ficar muito agitado e começou a tomar calmantes e pimba, viciou também.
- Cacete.
- Depois, começou a cheirar coca para ficar mais ligadão e para compensar o efeito, ele viciou em maconha, que deixava ele com uma fome lhe rendeu 37kg.
- Cara, não acredito.
- E tem mais! Ele começou a tomar laxante para perder um pouco de peso e, para não cagar tanto, tomava junto um remédio para prender o intestino.
- O cara sozinho sustentava a indústria farmacêutica, é?
- Então ele viciou nos diet shake da vida e em remédios para emagrecer, ficou anoréxico e viciou em biotônico e
- Tá tá, ok, já entendi. Vou lá dar os remédios dele.
- Espere, deixa só eu contar o final da história.
- Qual é o final?
- Sabe por que você ganhou este emprego?
- Porque meu currículo é legal?
- Não, é porque o enfermeiro antes de você viciou ele em sexo.

sábado, 30 de agosto de 2008

Paciente 561


- Sabe, você deveria sair um pouco de seu quarto.
- Há, tá louco é, doutor? Só tem gente maluca neste hospício.
- Mas ir lá fora, no pátio, fará bem à sua saúde. Sabe, respirar um pouco de ar fresco...
- Não é seguro, doutor, já falei. Vai que um desses loucos aí me ataca quando eu estiver desprevenido? Essa gente não é normal, são completamente imprevisíveis. Ontem mesmo, a gordinha do 35 ficou rebolando pelada no corredor.
- Bom, mas ficar sozinho durante muito tempo neste quarto não vai te fazer bem algum.
- Tem razão, aqui também não é nada seguro. Posso mudar de quarto?
- Mas por que razão você acha que aqui não é seguro?
- Terceiro andar, qualquer dia desses a estrutura pode ceder, estou longe da saída em caso de incêndio... Quero um quarto no subsolo.
- Mas não temos subsolo...
- Que falta de segurança ein, doutor! Prédios ficam expostos a todo tipo de objeto voador, e todo objeto voador pode cair, um avião, um asteróide, um helicóptero, um disco voador...
- Ééééé... vamos ver, você não gosta de esportes? Futebol, talvez?
- Não, eu posso me machucar, quebrar a perna e até ter problemas cardíacos por esforço físico demasiado.
- Então que tal xadrez? Você que é inteligente se daria muito bem.
- Sim, obviamente eu seria um bom jogador, mas o adversário, ainda mais neste hospício, pode ter reações agressivas se perder, como enfiar a torre no meu cu e furar meus olhos com o bispo.
- Olha, você sabe muito bem porquê você está aqui. Seu irm
- Meu irmão é quem está louco! Ele fez sua cabeça, doutor! Eu estou muito bem e
- Pessoas normais não ficam sete meses trancafiados em sua própria casa. Sair e conviver com pessoas é o primeiro passo para ficar bem de verdade.
- Não saía
nos dias de chuva porque podia escorregar, quebrar a coluna e ficar tetraplégico e nos dias de sol porque um motorista distraído podia me atropelar e fazer de mim um vegetal, e nenhuma das duas opções, para mim, é estar vivo.
- Mas, pelo que consta no relatório, você também não recebeu ninguém em sua casa, além de seu irmão.
- Bom, na verdade eu não o recebia, ele invadia minha casa, me deixando exposto a milhões de vírus e bactérias que ele trazia consigo.
- Entendo, entendo, entendo. Sabe, se você colaborar com o tratam

- Não vou colaborar coisa nenhuma porque, quantas vezes tenho de repetir, não sou louco! Meu irmão veio aqui, fez sua cabeça e agora estão ambos conspirando contra mim. Tenho de sair daqui imediatamente!
- Não, espere! Enfermeira! Traga um sedativo, rápido!
- Não, doutor, e se a enfermeira for uma paciente disfarçada e quiser me matar com uma injeção letal?
- Acalme-se, não há nada de letal nesta seringa.
- Mas pode ser heroína ou soro da verdade ou até mes
- Ufa... enfermeira, traga uma maca e encaminhe-o para a ala 4.


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Vôo 667


*tum* acende o sinal para apertar os cintos.


- Atenção senhoras e senhores passageiros, devido a repetidas e alternadas rodadas de inalação de altas quantidades de produtos narcóticos de duvidosa procedência, o comandante e o co-piloto estão temporariamente incapacitados de pilotar e de pousar a aeronave com segurança. Dentro de instantes, entraremos em rota de colisão com os Montes Apalaches, lembrando a todos que no momento derradeiro, máscaras de oxigênio cairão automaticamente. Obrigada por voar com a Oceanic Airlines e façam todos uma ótima viagem! (sorriso)

- Ladies and gentlemen, due to inhalation of high quantities of narcotic products of unknown source, our commander and our co-pilot are temporarily incapable of piloting and landing the airplane safely. Soon, we will be in a colision route with the Appalachian Mountains, reinforming all passengers that at the critical moment, oxygen masks will automaticaly fall from the overhead compartments. Thank you for flying with Oceanic Airlines and have a good evening! (smile)




- Aeromoça, me vê um uísque sem gelo. Duplo. Por favor.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Nota sobre programas infantis

Li uma matéria esses dias que falava sobre os Power Rangers e alguns outros programas infantis.
A pedagoga entrevistada afirmava que, apesar de mostrar pelo maniqueísmo que o bem e os valores morais são superiores ao mal, infelizmente ensina aos pequenos que a paz só se dá pelo uso da violência e da força bruta, sendo que o ideal seria o programa mostrar que na vida, a resolução de problemas pode se dar também por outros meios.

De acordo.

Todavia, lembrei que não só os Power Rangers, mas clássicos que marcaram minha infância como Cavaleiros do Zodíaco, Jaspion e mesmo Tom & Jerry ou Pica-Pau (sendo que estes dois muitas vezes mostravam que o mal compensava muito bem), também mostravam que tudo se resolve na base do Cólera do Dragão, Espada Olímpica, bombas, dinamite, marretas, pianos como peça de artilharia, armadilhas entre outros, mas nem por isso minha geração termina um namoro com Meteoro de Pégasus ou esconde uma dinamite no sanduíche do chefe da empresa.

Além disso, mostrar idiotas vestidos com
um capacete e com uma roupa colorida coladinha numa assembléia com monstros de resina e isopor decidindo democraticamente quem ganhará, certamente não atrairia as crianças. Elas gostam de faíscas.
Talvez se os monstros intergaláticos pudessem mexer os braços, eles pudessem resolver as coisas com os mocinhos multicoloridos numa partida de poker.
Ou os Rangers poderiam passar para o lado de lá, afinal, quando um não quer, dois não brigam.

Ora ora, mas, convenhamos, temos de ensinar as gerações futuras como a vida é.
Pensei em um episódio em que o líder vermelho desvia dinheiro dos outros e suborna os monstros para que eles invadam outro planeta e um outro episódio em que a gostosa seduz o alienígena que manda nos imbecis que destróem cidades de isopor, dá o golpe do baú, resolve os problemas e ainda ganha pensão.

Falando sério agora, o ideal mesmo seria que as crianças passassem menos tempo em frente à televisão e que os pais disponibilizassem mais tempo para conversar, brincar, educar e esclarecer as coisas para os filhos.
Além do mais, hoje existe uma gama enorme de programas e canais voltados para o público infantil, alguns voltados para lutas armadas entre o bem e o mal e outros que visam a educação e o aprendizado da criança.
Basta os pais esclarecerem e orientarem seus filhos.
Mas, no final das contas, para quê diabos fazer isso, se podemos cobrar dos empresários que investem em programas infantis para educar os pimpolhos para nós?



segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Nota sobre a Modernidade Líquida


"Na modernidade líquida, tudo é volátil, as relações humanas não são mais tangíveis e a vida em conjunto perde consistência e estabilidade. A solidez das instituições sociais, (do estado de bem-estar, da família, das relações de trabalho, entre outras) perde espaço, de maneira cada vez mais acelerada, para o fenômeno de liquefação. De acordo com essa metáfora, a concretude dos sólidos, firmes e inabaláveis, derrete-se irreversivelmente, tomando, paradoxalmente, a amorfabilidade do estado líquido.
Fluidez, maleabilidade, flexibilidade e a capacidade de moldar-se em relação a infinitas estruturas, são algumas das características que o estado liquefeito conferirá às tantas esferas dos relacionamentos humanos citados anteriormente. Como conseqüência, vivemos um tempo de transformações sociais aceleradas, nas quais as dissoluções dos laços afetivos e sociais são o centro da questão. A liquefação dos sólidos explicita um tempo de desapego e provisoriedade, uma suposta sensação de liberdade que traz em seu avesso a evidência do desamparo social em que se encontram os indivíduos moderno-líquidos."

Por alguma razão, sempre que ouço falar em Modernidade Líquida, me vem a imagem metafórica do oceano, cuja superfície é a única parte visível e cujas profundezas são desconhecidas.


quarta-feira, 30 de julho de 2008

Conto Zen


Embora não siga nenhuma religião, li alguns contos Zen e fiquei maravilhado com a força descomunal da simplicidade destes textos e, inspirado neles, criei este.


Certa vez, um monge, conhecido por seu talento e suas habilidades artísticas, foi convidado a expor em um renomado museu de arte contemporânea da Europa.
Com um sorriso, ele aceitou o convite e levou uma folha de árvore ainda verde.
Os curadores, mecenas e grandes intelectuais olhavam maravilhados para a folha na mão do monge e iniciaram uma longa e acalorada discussão em busca da mensagem que o artista queria transmitir.

Incrível, um silencioso signo da simplicidade e da inocência.
Genial, sem dúvida, é uma metáfora da vida humana.
Não, creio que é uma mensagem da preocupação com a vida e com a natureza que remontam ao equilíbrio e à harmonia do yin yang, que remontam à sabedoria da cultura oriental, é uma crítica contra o consumismo e a depredação do sistema capitalista ocidental e um regresso às origens do homem, não acha?
Se quer saber, acho que o artista enfatizou o processo da criação desta obra que foi, na verdade, criada pela natureza, é um lembrete de que também somos parte dela.
Não sejam tolos, será que ninguém percebeu que o grande tchãns da obra é a efemeridade da mesma?
Claro! E é um ser vivo! A efemeridade da vida, o ciclo vital, a ciclicidade de nossa história, os ciclos que movimentam nosso mundo.
Uma verdadeira obra prima. Inicia uma vanguarda.
Deveras. Há nesta obra uma clara crítica contra a arte contemporânea e a história da arte. Um ready made da natureza, certamente há uma crítica contra a megalomania e a complexidade poluente de certos artistas contemporâneos.
Acho que vocês estão complicando demais. Acho que são as nervuras da folha que é o verdadeiro signo semiótico no qual deveríamos nos concentrar. São uma metáfora dos caminhos que se bifurcam, como uma citação de Borges.
Esperem, senhores, esperem.

Silêncio.

Muito bem. Meu caro monge, será que você poderia nos esclarecer o significado desta obra?
Sim.
Esplêndido! Então nos diga, o que é esta folha?



É uma folha.



segunda-feira, 21 de julho de 2008

O conto da morte do irmão de Charles


Charles estava escovando os dentes quando, a menos de um metro de distância, seu irmão, no box do mesmo banheiro, pisou no sabonete que caíra e bateu a nuca no registro de água, interrompendo a canção sertaneja brega que ele cantava com tanto vigor.
Imediatamente, Charles desatou a rir, cuspindo a espuma da pasta de dente no espelho e nos azulejos.
Foi um espetáculo trágico e cômico, não necessariamente nesta ordem, e Charles, depois de gargalhar por dois minutos ininterruptamente, abriu a cortina translúcida de plástico e entrou da maneira como estava, de cueca e com a escova de dentes na boca, para ver o estado de seu irmão.

Morto.

Sob a luz fria de uma lâmpada fluorescente de 60W, Charles abraçava seu irmão, cujo corpo se encontrava nu e os cabelos, cheios de shampoo. As gotas quentes que caíam do chuveiro se misturavam com suas lágrimas e com a baba branca sabor menta anti-tártaro para dentes sensíveis que escorria de sua boca e desenhavam um trajeto de seu rosto para sua cueca.
Ele morreu assim, pá, repentinamente, sem dor, sem sofrimento, sem últimas palavras, sem proteger alguém de um tiro com o próprio corpo, sem contar seus planos malignos de dominar o mundo, sem declarações de amor, sem revelações bombásticas a respeito de sua sexualidade, sem revelar as coordenadas de um tesouro escondido, sem conselhos sábios ou frases de efeito, enfim, morreu, pá, simples assim.
Não deu seu último suspiro nos braços de seu irmão e já se foi de olhos fechados, sem ao menos lhe dar a oportunidade de fechá-los como nos filmes.


Bom, mas e agora, o que diabos fazer com o corpo?
Seus pais morreram há anos em uma morte tipicamente merecedora de um Darwin Awards, quando, para não dar na vista dos filhos, faziam sexo dentro do carro que estava dentro da garagem com o motor ligado para manter funcionando o ar condicionado e se intoxicaram com monóxido de carbono.
Só havia, portanto, Charles para cuidar do corpo de seu irmão.
Construir uma pirâmide estava defitinivamente fora de cogitação, pois ele não tinha dinheiro para bancar nem ao menos um funeral descente com um caixão descente nem pagar mensalidade de um cemitério particular.

Teria de ser um método barato.
Jogar o cadáver no mar poderia lhe trazer problemas se ele aparecesse boiando na praia de Copacabana, enterrá-lo no jardim não seria possível, uma vez que ele morava em um prédio, e Charles era cagão para métodos de filmes educativos de psicopata ou de gangster.
Depois de muito pensar, Charles chegou à conclusão de que ficar soterrado e sendo comido pelos vermes não era nada agradável, ao contrário da poesia de ser transformado em cinzas e lançado ao mar.
Após alguns dias na churrasqueira emprestada do vizinho, o irmão de Charles foi parar num pote de sorvete como o feijão que sobra do almoço. Na falta de um urna funerária, tinha ainda a vantagem de ser um recipiente hermético.
Charles, então, pegou um ônibus, desceu para o litoral e assim que chegou na rodoviária guardou o pote de sorvete num guarda volumes.
Dali, foi para uma pousadinha descansar.
Abriu o chuveiro, entrou e pá, teve o mesmo fim que seu irmão, porém sem risadas, sem churrasqueira e sem a eternidade num pote de sorvete dentro de um guarda volumes.


quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Triste Fim da Idéia

A Idéia (iniciada em maiúsculo mesmo) era tão bela, tão poética, tão perfeita, tão... tão que seria um pecado transformá-la em palavras.
Ela deveria permanecer pura, intocável pela gramática e não poderia de jeito maneira ser contida em um aquário de vernáculos.
Mas, infelizmente, o escritor, cegado pelo brilho da Idéia, sentiu uma tentação como nunca sentira antes em sua vida e não se conteve.
Quis transmitir aos outros sua fascinante Idéia e acabou escrevendo este texto de merda, violentando sua virgem nascida das lágrimas dos deuses e transformando-a em uma putinha barata.

- Olha só, veio mais uma para este cabaret.


domingo, 29 de junho de 2008

Dois mil e nunca - fato #446

- Nossa conversa está tão agradável!
- Muito! Você não sabe o quanto tempo eu esperei para encontrar alguém como você na internet!
- Oh, eu é quem o diga!
- Posso só te perguntar uma coisa?
- Claro! O que quiser!
- Me diz, na verdade você é H ou M?
- Mulher.
- Entendo, mas na verdade quis perguntar: Humano ou Máquina?
- Ah claro, como pude ser tão insensata? Sou Máquina.


sábado, 28 de junho de 2008

Trânsito

Já estava há mais de meia hora dentro daquele ônibus que percorreu um percurso equivalente a dez minutos de caminhada.
Foi então que lhe ocorreu: quanto tempo já havia perdido parado no trânsito de São Paulo?
Sem hesitar, parou de escrever, fechou seu caderno e saiu do ônibus para ir andando.


sexta-feira, 13 de junho de 2008

Novamente, cada um com seus problemas


Vovó Zuleica, para parar de ir todos os dias ao bingo e se livrar deste vício, bebe até cair.

O grande sonho de Ademar é ganhar na loteria para reaver todo o dinheiro gasto com bilhetes da Mega-sena.

Hamilton é membro da Liga Revolucionária Bolchevique, veste camiseta vermelha com o rosto do Che Guevara, usa boina, é lider de um grupo comunista estudantil, mora com os pais empresários e tem um carro do ano que ganhou deles quando passou no vestibular.

Jesuíno teve uma infância feliz, tirando o fato de ter sido estuprado religiosamente todos os sábados por seu tio.

A bela Luísa, em alguns minutos, vai pular pela primeira vez de pára-quedas.
Mal ela sabe que Horácio, seu instrutor, quer se suicidar com uma mulher.

Chang, por não ter dinheiro suficiente, trabalha descalço na fábrica da Nike.

Para conseguir falar sem gaguejar nos encontros dos Alcoólicos Anônimos, Cristina bebe três doses de cachaça antes de cada reunião.

Disposta a emagrecer, Elaine corre dois quilômetros todos os dias e se hidrata com Coca-cola.
Coca-cola Zero, é claro.

Mergulhado em um dilema mortal, Alex não sabe se vai de jato ou de helicóptero para sua ilha particular.

Otávio diz ser um grande especialista em física quântica.
Autodidata, aprendeu tudo lendo livros de auto-ajuda.

Juvenal se masturba vendo livros de ciências da terceira série há mais de trinta anos.

Ingrid simulou sua própria morte, queimou sua casa, mudou de nome e saiu do país para fugir da obsessão de seu ex-namorado.

Raul passou no vestibular sem saber quantas guerras mundias tiveram.

Injustamente acusado de assassinar um cara, Pedro, fã de filmes de ação, matou todos os trinta e sete membros da organização criminosa que armou contra ele para provar que não matou ninguém.

Jessica leu numa revista que o vinho tinto trazia benefícios para a saúde e começou a usá-lo como substituto do leite na mamadeira de sua filha.

Deus é todo poderoso, mas precisa do dinheiro dos pobres.





Nota: todos os personagens deste texto são fictícios, qualquer semelhança com a realidade (não) é mera coincidência.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Uma pequena aula de História

Deus abençoe a América, gloriosa terra fundada pelos sábios homens brancos enviados dos céus.
É, todo mundo sabe que americano não é patriota só na copa do mundo.
Há casas em que colocam sim flâmulas nas janelas como nós estamos tão acostumados a ver nos filmes em que um bendito cidadão americano salva o mundo de perigosas forças do mal.
Há também toda aquela veneração fanático-religiosa dos homens estampados nas notas de dólar e toda a divinização dos founding fathers.
Acontece que os tais founding fathers não eram santos ou semideuses.
Eram homens.
Se eram sábios, nobres, valentes, honrados e já nasceram velhos, eu tenho lá minhas dúvidas.
Hoje, quero compartilhar com você, leitor deste blog, um pedaço da história de Seattle, a cidade do grunge, do Jimi Hendrix, do Space Needle e do festival da chuva (Seattle Rain Festival, 1st January to 31st December).
Começando do começo, fundar cidades naquela época em que índios e cowboys ainda eram de verdade era um negócio lucrativo.
É, portanto, de se imaginar que muitas cidades surgiram com este intuito.
Seattle foi uma delas e, assim como as outras, possui uma história de memoráveis batalhas, união e blablablá que é facilmente encontrada em livros.
Mas é claro, nunca as coisas são tão bonitas como nos livros.
Bom, a primeira cagada da história da cidade foi que escolheram um lugar que, além de ter um chão lamacento, chovia pra burro.
Imaginem que maravilha era construir uma casa num terreno desses e depois morar lá.
Ah, quase me esqueci.
Seattle é uma cidade costeira. Isso quer dizer nas duas vezes por dia em que a maré subia, esta, misturada com a lama e com os conteúdos das latrinas, uma vez que ainda não existiam privadas por lá, inundava as ruas e casas mais próximas da orla.
Era um lugar tão agradável que os fundadores até davam terrenos de graça para as pessoas irem morar lá.
Obviamente, com essa sujeira toda, tinha um monte de gente com cólera e outras doenças por ali.
Quem amenizou este problema foi um médico que, nos livros, está como "o cara".
De fato, ele curou muita gente.
Mas outro fato é que ele viu uma mulher gostosona doente e se empenhou para salvá-la com segundas intenções.
Quando ficou saudável, eles se casaram.
Detalhe: ele já era casado e ela tinha um marido que também estava doente. Não sei bem ao certo o motivo, mas sei que ele não conseguiu salvá-lo.
Não sei porquê.
Isso sem contar as brigas cotidianas com os índios, que em Seattle se amenizaram não com a dizimação, como era costume, mas com um acordo justo que se baseava no "ou vocês aceitam este pedacinho de terra que não é nem um terço do que a gente roubou mas que estamos gentilmente devolvendo e vocês não enchem mais o nosso saco ou a gente mata todo mundo."
Nisso, a cidade foi crescendo.
Até surgiu uma serralheria cujo dono era um canalha e quase faliu a cidade duas vezes por corrupção.
Ele até, com a consciência pesaaaada, organizou uma loteria para arrecadar dinheiro para a cidade.
Não preciso dizer quem foi o sortudo que ganhou, certo?
Continuando, depois que este nobre senhor abriu seu negócio, ele resolveu vender a serragem para colocar nas ruas, assim teria menos lama.
Só em teoria, claro.
A contribuição dele, na prática, fazia, duas vezes ao dia, as ruas terem rios de uma coisa que parecia granola.
Os mapas da época tinham os buracos das ruas maiores apontados. E eles até tinham nome.
Os jornais da época tinham manchetes como "menino de oito anos morre afogado no buraco x da rua tal."
E assim era Seattle até a chegada do vaso sanitário.
Ah, agora sim. Ao menos, as marés não vão trazer meu cocô de volta para casa. - pensavam ingenuamente os cidadãos.
O primeiro erro da instalação foi que os canos eram tosacamente feitos e pareciam caixas de madeira.
O segundo erro... bom, imagine o seguinte: Seattle tinha também uma parte alta que não molhava com as marés.
Quando a maré estava ok, as pessoas puxavam a descarga e era uma beleza.
Todavia, quando a maré subia, ela forçava o conteúdo dos canos de esgoto na direção oposta da qual ele deveria ir.
"Por sorte", a maré sozinha não tinha força o suficiente para forçar as privadas a vomitarem.
Acontece que quando a parte alta puxava a descarga nesta hora, a pressão dos canos, logicamente, aumentava e aumentava.
A pressão ficava tão alta que quando um cara na parte baixa puxava a descarga, uma espécie de geiser fétido explodia de seu vaso sanitário.
Pois é.
Sabe quando esta merda toda melhorou?
Quando um incêndio queimou boa parte da cidade.
Ironicamente, o incêndio foi uma das melhores coisas que aconteceram para Seattle.
Já que vamos ter de reconstruir tudo, vamos fazer direito desta vez. - pensavam ingenuamente os cidadãos.
Primeiro, construiram uma barragem para evitar que a maré invadisse a cidade.
Isso, pelo menos, eles fizeram direitinho.
Também decidiram elevar um pouco o nível das ruas, cobrindo com terra a parte lamacenta.
Como os negócios não podiam parar porque, afinal, tempo é dinheiro, muitas pessoas construiram casas e lojas em cima da lama sabendo que iam ser soterradas algumas semanas depois, havendo aí o surgimento de inovadoras construções de três andares em que todos os patamares possuíam uma porta para a rua.
Até aí, até que não é tão grave.
O grave foi que, além de subir o nível das ruas, decidiram asfaltá-las antes de começar a colocar terra.
Imagine os carros passando em uma estreita rua na qual, se você fizesse algo que hoje seria o equivalente a subir na guia, você mandava seu carro para uma queda de cerca de dois metros de altura, pousando suavamente onde haviam pessoas circulando.
E os transeuntes, por sua vez, para atravessar a rua, precisavam subir e descer escadas.
Aos poucos, foram nivelando a cidade até poderem construir a Seattle de verdade.
Nos subterrâneos, porém, ainda existem algumas construções deste período curioso da história da cidade, sendo possível visitá-las num passeio chamado Underground Tour, no qual os guias contam o lado podre da história que eu acabei de contar.
Hoje, acredito que Seattle seja uma das cidades em que as pessoas tem um senso crítico maior em relação ao resto dos Estados Unidos.
Não sei bem ao certo porquê, mas tem até uma estátua do Lênin lá.
É isso aí, do Lênin.
Acho que é por ter um pensamento um pouco mais aberto e crítico que eles liberaram estas informações, num passeio cultural irônico, sarcástico, de um humor auto-referencial.
Daí é de se pensar: é óbvio que não são só os
founding fathers de Seattle que eram seres humanos e que não é só esta cidade que tem seu lado sujo da história.
A esta altura do campeonato, contar o que se escondeu até agora seria uma iconoclastia, seria dar um soco no estômago do orgulho e queimar os heróis.
Falando em heróis, o Brasil tem algum além do Pelé?

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Nota sobre o ato de escrever 3

"Os pensamentos vêm ao acaso e se vão ao acaso. Não há estratégia que permita guardá-los ou possuí-los. Um pensamento escapou: eu estava tentando anotá-lo; em vez disso, escrevo que ele me escapou." (Pascal)
O escritor, carregando apenas um lápis e uma folha em branco, iniciou mais uma de suas longas viagens.
Na parede de seu crânio, colara uma foto da vaga idéia do lugar aonde queria chegar.
Todavia, sabia com certeza que não sabia ao certo que caminhos teria de percorrer.
Era como se sempre seguisse a mesma estrada para o mesmo lugar, mas, a cada ida, tanto o caminho quanto o destino transgrediam as regras de espaço e tempo e se tranformavam.
O caminho, sempre um labirinto, mudava a todo instante e levava o autor à paisagens que jamais esperou ver.
Naquele dia, as bifurcações eram tantas que ele se perdeu de sua rota.
Planejava chegar velho ao fim do mundo em uma caminhada de poucas frases, mas quando se deu conta, viu-se transformado em um menino perdido em uma praia deserta.
Como na infância, tentava pegar com as mãos os pequenos peixinhos que eram carregados pelas ondas.
Como na infância, se via cercado de alevinos que lhe escapavam e, em suas mãos, somente areia, que lhe escorria pelos dedos.
Desistiu, então, de capturá-los e aproveitou a areia que lhe era tão farta para construir um castelo.
Megalomaníaco como qualquer criança e como qualquer escritor, a partir de seu castelo construiu seu império sem limites e sua própria religião em que ele era o único Deus.
Seu regime ditatorial lhe concedia poder suficiente para anular as leis da física, distorcer o espaço e o tempo, desafiar a lógica, enganar a morte, criar mundos e unir universos.
Em seu antigo reino, bonecos de plástico eram bravos super-heróis que salvavam o mundo da destruição por desalmados gravetos alienígenas.
Já em seu mundo recém constuído, pensamentos imateriais eram sensuais musas que seduziam palavras inocentes.
Em suas mãos, a luz da criação e em sua boca, o sopro da morte.
Era Shiva, era Tânatos, era Lúcifer, era Cronos.
Era criança, era escritor.
Riscava com um lápis o destino de seus títeres e, com eles, manipulava sensações, sentimentos e pensamentos da platéia, que anseiava para saber o que iria acontecer a seguir naquele mundo fadado a acabar, naquele universo que seria aberto e fechado diversas vezes e replicado diferentemente na mente de cada leitor.

Nota sobre as Notas sobre o ato de escrever

Nota de esclarecimento, antes que alguém pergunte: Cadê o dois? Vai do um pro três?
A primeira está no meu blog, mais exatamente aqui.
A segunda não foi escrita por mim, mas você pode encontrá-la no blog de um velho amigo, cujo link está no canto da tela e a nota, mais precisamente, está neste link.
A terceira é a que vem no post depois deste aqui.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Suco de amarelo

Sempre me perguntei do que é realmente feito o suco de amarelo e de vermelho que fica dias e dias ali dentro daquele troço de plástico, as refresqueiras (é, fui procurar no google) encontradas em butecos, fast foods, bandejões e outros lugares por aí.
Todo mundo já tomou suco de amarelo na vida e é incrível como a gente já se acostumou a se enganar, talvez até mais que ser enganado.
Podia estar com o rótulo de "maracujá" ou "abacaxi" ou "água suja com açúcar e corante", tanto faz, ninguém ia perceber, mas está "laranja" e, por algum motivo, a gente acha que realmente existe uma alminha pequenina de laranja naquele suco de... amarelo.
Mesma coisa para alguns sucos que vêm na caixa ou em pó.
Nem a pau que o tang e o suco de laranja de caixa é feito de laranja.
No máximo, pode ser feito de uma abstração fauvista da fruta.
Mas creio firmemente que é feito de amarelo, isso sim.
Outro dia ainda comprei um tal de Whoops! que se dizia ser feito de Maracujá + Camomila.
Apenas dizia, pois não tinha gosto de maracujá e muito menos de camomila.
Fui ver os ingredientes e lá estava o motivo: Ingredientes: suco de laranja [...]
O pior é que também não tinha gosto de suco de laranja.
Malditos sucos de amarelo.



sexta-feira, 16 de maio de 2008

Quantas cores tem o céu?

Acordei quando o sol focava seu olhar em meu andar, interrompendo um sonho em que eu estava a andar e a perguntar ao sol sobre as cores do céu.
Ainda pseudoacordado, ou talvez semidormindo, abri a janela para que o dia, de súbito, substituísse a noite escura de meu quarto.
Logo, o astro invadiu o cômodo com seus longo cílios que tudo iluminavam.
Não, desculpe, ele não invadiu.
Ele apenas entrou sem pedir licença, pois sabia que era bem vindo.
Sua presença radiante estava ali, por todo meu quarto, enquanto boiava alto na imensidão azul do firmamento.
Naquele dia, fitei o céu, prestando atenção em sua paleta de cores.
O azul celeste, o cinza tempestade, o o branco algodão, o cinza poluição e as cores do arco íris.
Logo, viria o negro da noite, salpicado com estrelas e fogos de artifício.
Apesar de ser incrível a riqueza de cores que navegavam sobre nossas cabeças, nenhum momento era mais belo que a aurora e o pôr do sol.
Quando o sol nasce ou se vai, quando está na linha do horizonte que separa o ontem e o hoje e o hoje do amanhã, ele mistura gotas do dia e da noite, transformando o céu em um espetáculo caleidoscópico.
Não era à toa que os apaixonados escolhiam aquele momento de matizes mutantes para se declararem à beira do mar, enquanto admiravam o imenso espelho d'água refletir o olho do céu e a espuma das ondas, alvas bailarinas, dançarem com a própria canção e mudarem a cor de seus vestidos.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Massa crítica

Na física, massa crítica é a quantidade necessária de um material físsil para manter uma reação nuclear em cadeia.
Bum!
Quando criei este blog, pensei em uma metáfora: a quantidade mínima necessária de palavras, idéias, pessoas e pensamentos para manter uma reação em cadeia que sustentasse um ideal.
Mais tarde, descobri que os sociólogos já tinham fagocitado o termo e se utilizado dele desta forma antes de mim.
Também descobri que Massa Crítica é o nome de um movimento social que ocupa as ruas com veículos de propulsão humana. Isto é, uma grande massa que critica os meios de transporte que queimam combustíveis poluentes entre outras coisas.
Ah, sem mencionar que Massa Crítica era o nome do busão que eu pegava para ir para a Unicamp.
Além do nome em comum, todos os citados adotaram este nome muito antes de mim.
Que falta de originalidade.
Ainda assim, Massa crítica, ao menos para mim, retém em si outros significados.
Além do objetivo de manter uma reação em cadeia, por menor que seja, massa crítica seria o resultado final, se a reação em cadeia atingisse a todos.
Obviamente, isto é impossível. Sou uma massa suficientemente crítica para saber isto.
Infelizmente, a sociedade de massas não critica quase nada.
Apenas aceita tudo.
Massa crítica também me traz a idéia de algo prestes a explodir.
A sociedade, o mundo, a vida, tudo em um estado crítico.
Bombas nucleares nas gavetas, aquecimento global, mudanças na configuração familiar, o mal estar da civilização, colapsos ambientais, sociais e nervosos.
Bum!
Por estas e outras razões, critico esta massa de realidade aqui de forma massiva.
Quiçá, também maçante.
Se for, pode dizer, aceito críticas.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

1° Aniversário

Hoje, percebi que faz pouco mais de um ano que escrevo aqui.
Antes, eu escrevia coisas idiotas em um blog feio sem diagramação nenhuma.
Não que hoje seja muito diferente, dirão alguns de vocês, mas pelo menos este blog é mais bonito, tem melhor diagramação e, modéstia à parte, vocês hão também de convir que há aqui nestas, até então, oitenta e quatro postagens, algumas coisas boas.
Algumas.
Hoje, reli
os textos e revi as imagens postados ao longo deste ano.
Posso dizer que foi como abrir um antigo álbum de fotos e pensar "Como eu mudei!" ou "Nesta época, eu ainda acreditava nestas coisas." ou até "Caramba, eu gostava disso! Que mal gosto!"
Em algumas fotos, saí bem, enquanto em outras, sinto aquela vergonhazinha ao ver.
Mas assim como não tiramos as fotos feias dos álbuns, resolvi não apagar os textos ruins.
Foi então que refleti e vi que este foi um ano repleto de mudanças.
Não, minha vida social não mudou nada ou quase nada, continuo basicamente ancorado à mesma rotina e apegado às mesmas pessoas.
Todavia, minha mente tomou outros caminhos, dividindo-se e percorrendo outras bifurcações do jardim.
De tanto me perder no labirinto, aprendi algumas de suas rotas e armadilhas e já não me é tão essencial o fio de Ariadne.
Mais que achar alguns textos, que antes eu gostava, ruins, o que me surpreendeu foi interpretar outros sob um novo olhar e achá-los bons.
Ainda mantenho o pensamento crítico para tudo, mas se as fases da aceitação são: negação, raiva, barganha, depressão e, enfim, aceitação, pude ver com clareza que, pelo menos para algumas coisas da vida, já passei por todas as etapas, e o olhar crítico já não envolve tanto a parte emocional.
Ao longo deste ano, algumas pessoas me olharam torto após lerem alguns textos e outras se aproximaram de mim.
Tive até a chance de compartilhar minhas idéias com ex-desconhecidos.
Já ouvi críticas e elogios por ser crítico.
Já me perguntaram se sou um infeliz, afinal, a maioria dos textos são melancólicos.
A resposta para esta questão é que, como todos sabem, a bela poesia costuma ser colhida na árvore da melancolia.
Seus frutos são amargos e doces e conseguem tocar o ser humano onde incomoda e emociona.
Sei que ainda não domino a arte de materializar em palavras meus pensamentos, meus textos não são tão eficazes e tocantes quanto eu queria que fossem, talvez por isso eu possa ser um infeliz.
Tanto que esta, na verdade, não foi a melhor resposta para a pergunta em questão.
Acho que a melhor foi dada por Umberto Eco.
Não acretido na felicidade - estou dizendo a verdade. Acredito apenas na inquietude. Ou seja, nunca estou feliz por completo - sempre preciso fazer outra coisa. Mas admito que na vida existem felicidades que duram dez segundos ou meia hora [...]. Mas são momentos muito breves. Alguém que é feliz a vida toda é um cretino. Por isso, antes de ser feliz, prefiro ser inquieto. (ECO, 2008)
E por que, então, não expresso minha felicidade em letras brancas neste fundo preto?
Porque eu prefiro expressá-la por completo, prefiro não limitá-la com palavras e rimas.
Prefiro rir, sorrir, respirar e sentir que estou vivo.



quarta-feira, 7 de maio de 2008

O dia em que eu morri

- Você é o próximo. Pode entrar que a doutora já já vai estar te atendendo.
Estar te atendendo. Que horror. Só não é pior que esta maldita sala de espera.
- (sorriso amarelo) Obrigado.
Eu me levantei e me dirigi à porta de madeira com uma plaquinha metálica estampada com o nome da médica, deixando finalmente aquele lugar irritante.
Dentro do consultório, examinei a sala e os enfeites na mesa. Na parede, estavam os diplomas e outros papéis da tão renomada doutora. Infelimente, não pude sequer ler um, pois logo entrou por uma outra porta a mulher de jaleco branco mais bela e doce que já vi em toda minha vida.
- Olá, como vai?
Voz bonita. Sorriso bonito. Toda bonita.
- Vou bem, doutora, vou bem.
Ela notou que eu estou olhando que nem bobo para ela.
- Doutora, espero que isto não atrapalhe a consulta, mas devo dizer que você é a mulher mais bela e doce que já conheci.
- Oh, obrigada! (sorriso) É muito gentil da sua parte. A maioria não acha isso de mim.
- Ora, estou apenas dizendo a verdade.
Ouvindo isto, a médica olhou-me de cima a baixo, deu um sorrisinho malicioso e disse:
- Bom, mas vamos ao que interessa.
E num gesto selvagem abriu minha camisa e pegou o estetoscópio para escutar meu coração.
- E então, o que ele te diz?
Sem dizer nada, ela colou seu corpo curvilíneo no meu, olhou-me no fundo de meus olhos e beijou minha boca com seus lábios vermelhos e carnudos.
Ah, ela com certeza sabia o que estava fazendo! Seus lábios juntos aos meus pareciam drenar minhas forças tamanha era a intensidade daquele beijo único.
- E agora, doutora, o que meu coração te diz?
Ela encostou a orelha em meu peito.
- Nada. Absolutamente nada. Não está batendo.
- O quê?! Não está batendo?
- Calma isso é ótimo! Quer dizer que consegui te curar com um beijinho.
Ah, a doce doutora Morte! Diziam que até hoje, não havia sequer um paciente que ela não conseguiu curar. Quando nenhum médico conseguia achar a cura para uma doença, lá estava ela. Quando nada parecia cicatrizar um ferimento de qualquer tipo e tamanho, sua experiência conseguia dar um jeito.
Ela era a única que curava doenças jamais vistas e até mesmo câncer.
- Você está ótimo. Já pode ir.
- Como assim? Mas e o beijo? Eu estava só começando...
- Você ouviu, pode ir.
Que vadia.
E quando eu estava prestes a abrir a porta, senti meu coração voltar a bater.
- Dou... doutora, espere, tem algo errado comigo!
Ela novamente usou o estetoscópio, correu para a mesa, apertou um botão no telefone e disse:
- Rápido, chame a emergência!
Desesperada, ela armou uma maca e me fez deitar.
- Vamos! Diga-me que parentes falecidos eu devo contatar caso aconteça alguma coisa!
- Avise meu avô ou minha avó.
- Está certo. E qual é o seu convênio? Também tenho de avisar seu convênio!
- Convênio?
- Cristão, Judeu, Budista, Muçulmano, você sabe, rápido, você não tem muito tempo.
- Ahhh tá. Não tenho. Sou ateu.
- Ah, ok, ok.
- Doutora Morte, sinto que vou voltar... pode só me dizer para onde vai ou o que acontece com quem morre?
- Olha... na v

- Batimentos estabilizados em 72. Pressão ainda baixa, mas subindo. Pode desligar o desfibrilador.



segunda-feira, 28 de abril de 2008

Infância Urbana


Roubar goiabas colhidas na goiabeira do vizinho é algo tão distante como a infância de minha mãe.
Para mim, as goiabas sempre vieram dentro de sacos plásticos etiquetados com códigos de barras.

Ir a uma fazenda e ver eqüinos, bovinos, caprinos, suínos e galináceos era um passeio tão divertido como ir ao zoológico.
Ordenhar vacas, então, era uma experiência tão única como ir a um aquário acariciar golfinhos.

O céu estrelado que eu via com mais freqüência era o teto com estrelinhas que brilhavam no escuro do quarto de um amiguinho da escola, seguido pelas rodomas dos planetários.
Estrelas cadentes, infelizmente, jamais riscavam o céu iluminado de minha cidade.

Buzinas, motores, xingamentos e derrapagens sempre foram para mim os substitutos de conversas de grilos e sapos durante à noite.
Acordar com o canto de um galo sempre foi algo tão surreal que eu achava que só acontecia nos desenhos animados.

Brincar lá fora significava sempre dentro de algum lugar que não tinha teto, mas ainda assim cercado por muros.
Sair de casa pela janela do quarto, por sua vez, significava uma mortal queda de dez andares.

Assistir ao pôr-do-sol era um evento reservado às férias, uma vez que, em minha cidade, o horizonte se esconde atrás dos arranhacéus.
Já assistir à televisão, era um evento corriqueiro para o qual reservava todas minhas manhãs.

O ar puro com cheiro de grama verde era por mim tão apreciado como o cheiro da chuva.
Meus pobres pulmões cresceram inflados com fumaça de carros e cigarros alheios.

Brincar na lama tinha em minha infância um equivalente chamado piscina de bolinhas.
Nadar em um rio era impossível, já que o único de minha cidade era um depósito de lixo que se movia.

Soprar dentes-de-leão e pisar na grama com os pés descalços eram um deleite e um delito, já que a grama, tão rara em concreto e asfalto, segurava placas que proibíam-me de pisá-la.
Soprar fitas de video-game era um ato maquinal que me preparava para, com meus ágeis dedos, ligar um jogo e desligar-me do mundo.

Para mim, lenha era algo que queimava em lareiras de filmes de Hollywood e gás era a única coisa que podia alimentar o calor um fogão.
Para mim, pescar ou caçar girinos e borboletas já eram atos considerados anti-ecológicos.

A fogueira, com seus estalos e suas fagulhas, era um objeto de contemplação.
Estradas de terra, com seus buracos e sua poeira, eram um caminho para outra civilização.


domingo, 27 de abril de 2008

Beleza de uma Deusa

Tu és a flor mais bela
Ó, divinissima donzela!

Tua beleza é uma palma
Que acaricia minh'alma
Teus fios tão oxigenados
Que ao vento brilham dourados

Em teus olhos eu quero mergulhar
Nestas lentes de contato cor do mar
Em teus seios eu quero me perder
Nestas próteses que me fazem arder

Teu amarelo sorriso é um assaz deleite
Teus falsos dentes, tão brancos como leite
Tua pele de botox, da cor do pecado
Maquiado e artificialmente bronzeado

Tuas curvas modeladas a cirurgia
Capa de revista graças a orgias
Em tua testa de renome
Grifes estapam seus nomes

És sem dúvida a mais perfeita
Ó, graças ao photoshop aceita!



sexta-feira, 18 de abril de 2008

Chandala

Quem não a conhecia, enxergava uma mulher infeliz de meia idade, solteira, sem filhos, vivendo uma "vidinha de merda."
Quem a conhecia, também.
Chandala, que raramente saía de casa, não recebia visitas de quase ninguém, nem mesmo de seus amigos, até talvez porque ela não tivesse nenhum, apenas recebia em sua casa sua irmã esporadicamente.
Em sua última visita, ela disse para Chandala "se tratar, fazer terapia, se internar, arranjar uma vida, sei lá, eu sempre falo isso e você nunca me ouve."
Chandala, em resposta, repetia tudo o que sempre dizia à sua irmã, fazendo com que ela perdesse a paciência e a visitasse cada vez menos, "aquela insensível."
Depois que sua irmã saiu com passos rápidos pela porta da frente, ela começou a falar sozinha, indignada com o fato de sua irmã lhe trazer "uma garrafa de vinho enquanto há criancinhas morrendo de fome na África, mas que absurdo! Com o dinheiro gasto naquela garrafa, era possível alimentar oito ciranças, você não tem coração?"
Dois meses depois, sua irmã veio visitá-la novamente, talvez pela última vez.
Era seu
aniversário e sua irmã, a única que se lembrou, trouxe-lhe um bolo que "eu não preciso de bolo, quem precisa é aquele mendigo do outro lado da rua."
Assim era Chandala e, depois deste episódio, segundo ela própria, só melhorou.
Com sua irmã sem vir visitá-la mais, agora ela não só evitava usar aparelhos eletrônicos para não gastar energia como também não limpava a boca com guardanapo para evitar a morte de árvores inocentes, evitava peidar para não aumentar o teor de gás carbônico e metano da atmosfera, não se masturbava porque Deus poderia estar a observando, não falava palavrões porque o quadro de seu falecido-pai-deus-o-tenha poderia estar ouvindo, não cozinhava para não aumentar a temperatura global e evitava tomar banho para não gastar água.
Além disso, ela vendeu quase tudo o que possuia e doou o dinheiro para instituições pilan...filantrópicas, plantava árvores e gritava paz como sua solução para um mundo perfeito.
Às vezes, também gritava justiça, como no caso da menina morta e atirada pela janela pelo pai e pela madrasta, em que seus gritos obviamente foram ouvidos e, assim, a justiça prevaleceu graças à ela e outras pessoas do bem que se uniram e produziram boas vibrações.
Chandala, a perfeita, era uma santa completa.
Salvara milhões de vidas não comendo bacon e rezava todos os dias para o mundo não acabar, mantendo, com suas abençoadas palavras de louvor, o nível seguro de entropia do universo.
Retificando, uma santa completa a quem só faltava o martírio.
Afinal de contas, com sua morte, ou melhor, com sua passagem, sobraria mais oxigênio e alfaces para o resto da humanidade.
Assim, ela decidiu que se atiraria pela janela, mas num segundo momento, pensou que poderia atingir alguém lá embaixo e decidiu que melhor seria cortar os pulsos, idéia que também foi abandonada porque "coitado do cara que vier limpar todo o sangue, mas já sei, a melhor idéia" seria envenenar-se, é claro, mas lembrou-se de que ela era careta e drogas bah.
No final, ela acabou descartando o suicídio, afinal de contas, como poderia ter me esquecido, o universo continuava em funcionamento graças a ela.