sábado, 19 de janeiro de 2008

Como o mundo

Era uma vez um menino que descobriu como o mundo funcionava.
Sonhador por natureza e revoltado por saber a verdade, jurou para si mesmo que mudaria o mundo a qualquer custo.
Tudo o que ele queria era um mundo em paz, feliz e justo.
Seu primeiro passo foi plantar árvores e sair pelas ruas gritando paz.
Mas em todo lugar bombas continuavam a e x p l o d i r e árvores, a cair.
Então, o menino resolveu reunir seus amigos para elaborar um plano melhor.
Mas como eram ainda muito jovens e inocentes, não conseguiram chegar a lugar algum.



O tempo foi se passando e o menino, um menino já não era mais.
Agora ele era um homem, mas mantinha o mesmo sonho.
Com suas idéias revolucionárias e inovadoras e seu carisma, rapidamente conseguiu um cargo político e depois de alguns anos, ainda novo, conseguiu chegar à presidência.
Chegando lá, ele subiu no
mais alto banquinho do mundo e fez transmitir e permear suas palavras em outras nações.
Finalmente depois de tantos anos, ele estava a um p a s s o de atingir seu objetivo, restando apenas algumas localidades em que ele encontrava OPOSIÇÃO ao seu governo quase mundial.
Com alguns de seus colegas dizendo que poderia ser saudável haver uma
OPOSIÇÃO fraca a ele, o homem decidiu manter negociações esporádicas com os outros governos, e a paz, a felicidade e a justiça se imporam ao mundo jutamente com o homem por algumas décadas.
Muito tempo depois, porém, sua obsessividade na conquista de sua meta o fez entrar em guerra com os poucos países que se apresentavam contra sua política.
Sem conseguir impô-la, em poucos dias, dizimou povos e destruiu cidades inteiras, fazendo com que muita gente desacreditasse dele.
E desta forma, em alguns anos, o mundo havia rumado novamente à guerra, à injustiça e à infelicidade.



Eis então que surge um menino que descobriu como o mundo funcionava.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O fim do mundo

A notícia se espalhara tão rapidamente quanto um vídeo do youtube.
O mundo ia acabar em vinte e quatro horas e desta vez, nem Jack Bauer nem ninguém poderia salvar a humanidade.
Obviamente, quase ninguém foi trabalhar neste dia, com exceção de alguns poucos jornalistas e pessoas miseráveis ou de culturas tribais sem acesso a tal informação.
No resto do mundo, porém, em poucos minutos, todo dinheiro, preservativos e anticoncepcionais do planeta deixaram de ter sentido, o fato do mundo acabar num sábado não fazia a menor diferença e o caos tomou as ruas.
Famílias se abraçavam e choravam em igrejas mais cheias que a 25 de março em véspera de natal, declarações de amor e de perdão saturavam o ar juntamente com a fumaça de cigarros, narcóticos e qualquer outra coisa que soltasse fumaça, conhecidos em lágrimas se suicidavam em massa enquanto desconhecidos alucinados e sorridentes se amontoavam em orgias públicas, prisioneiros e loucos perambulavam soltos e saciavam a sede de vingança, lojas eram saqueadas e mulheres se cegavam com os saltos dos sapatos competindo pela última lata de caviar, coma alcóolico e overdose se tornaram uma epidemia, pessoas limpavam a bunda com notas de cem, atos de vandalismo aconteciam na rua paralela à avenida em que se juntavam pessoas vestidas de branco de mãos dadas cantarolando canções de paz e esperança, caçadores e outros portadores de armas caçavam gente por pura diversão, os sismógrafos do oriente médio registravam um pequeno tremor devido a milhares de suicidas com vários quilos de explosivos amarrados ao corpo que se explodiam simultaneamente e pessoas nuas corriam empurrando carrinhos de supermercado com outras pessoas nuas dentro enquanto João tomava um cafezinho e olhava pela janela com um sorriso.
Ele era dono dos meios de comunicação e o fim do mundo era invenção sua.
Não, o planeta não ia se explodir, mas com certeza era o fim do mundo como as pessoas o conheciam.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Sampa

Chove e as ruas ficam inundadas.
De carros.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Tv

Apaixonados, se casaram.
Quatro anos depois, ela pediu divórcio.
Sabia que ele jamais a trairia com outra pessoa, mas já não suportava mais a falta de atenção do marido.
Acontece que já havia dois anos que o marido mantinha um casamento estável e feliz com a televisão.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Rugas

Ninguém sabia ao certo quantos anos se acumulavam na profundeza verde dos olhos de dona Mena.
Só se sabia que ela era velha, muito velha e vivida.
Era
um mistério para todos o número de histórias que se escondiam sob suas rugas e seus cabelos brancos.
Além de saber que ninguém nada sabia sobre a velha cigana, o que todos sabiam era que a misteriosa senhora possuia um dom único de ler o passado, o presente e o futuro.
Nada de mapas astrais, horóscopo, quiromancia, bola de cristal, tripa de ganso, borra de café ou baralho de tarô.
Dona Mena lia rugas.
Ela dizia que havia uma história abstraída em cada vinco.
Cada arrependimento, cada momento intenso, cedo ou tarde se manifestariam como um marco na pele.
As que se manifestavam cedo demais, para ela era uma dica do futuro.
Por isso, ela admirava e gostava de pessoas com cara de papel amassado ou de cotovelo.
Eram bem vividas.
Por outro lado, ela não gostava de gente esticada e com botox.
Dona Mena dizia que quem escondia o passado, tinha vergonha do presente e medo do futuro.
Para os jovens, ela sorria e falava para voltar depois de vinte anos, sem cirurgia nem botox.
Aconselhava também a não correr atrás do tempo, pois a recíproca poderia vir a ser verdadeira.
Depois de tomar um chá com a idosa e sair, todos os jovens pensavam "mas daqui a vinte anos? A velha já vai estar morta..."
É, outra coisa que ninguém sabia é que Dona Mena era amiga do tempo.


terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Religiosidade

Eu respeito desde que não venha pregar ou me converter.
Mas é fato, pessoas religiosas demais me cansam.

- Desculpe, acho que não fomos apresentados ainda, o senhor é?
- Meu pastor e nada me faltará!