quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Nonsense...?



Um sonho. 
Um sonho branco. 
Branco como a lua. 
Branco como o leite. 
Branco como a neve...
Branco como um elefante branco. Ponto.
Um sonho branco.
Foi um sonho branco que me despertou para a realidade.
Uma realidade colorida, com todas as cores que juntas formam o branco que de todas as cores é formado e que juntas formam o branco.
Foi um sonho que me despertou para uma realidade em que tudo me parece um sonho, mas a realidade é que é inacreditável.
Uma realidade deitada sobre uma rede macia de coincidências e absurdos e toda coincidência é um absurdo, mas o que não é absurdo ou mais absurdo que a realidade?
Eu gosto do absurdo.
Gosto de usar a imaginação a favor das palavras e vice e versa.
Mas talvez não seja preciso palavras tampouco imaginação para assistir a uma retroescavadeira dançar balé de maneira tão leve, delicada e feminina.
Não, certamente não é preciso.
Assim como não é preciso Lucy para haver Sky with Diamonds, também não é preciso pergunta para haver Because, nem é preciso ter sangue no álcool para conversar horas sobre uma cowgirl capadora de anões.
Não é preciso ser criança para brincar de bichinhos nem ser surrealista para desenhar vacas voadoras e muito menos ser biólogo para descobrir joaninhas sangue-sugas. 
Quem dirá então fazer música sem som e improvisar um dueto na clave muda, é claro que isto também é perfeitamente possível.
Se tartarugas podem ser pombos-correio, por que não?
Se é possível luzes serem sólidas e fogo um líquido que corre nas veias, se é possível madeiras se teletransportarem e suco de pêssego brotar da pele, então tudo é possível. 
Sim, tudo é possível.
Posso me ferir e ver a cicatriz em outro corpo, posso assistir um coração valsear, posso ouvir minha voz em som stereo sem artifícios tecnológicos, posso ter anteninhas, quatro braços e oito dedos no futuro e perceber assim que o número quatro me persegue.
Já vi gente destruir um poste com um beijo e acordar na mesma noite com um canto de um galo em plena metrópole e no mesmo recinto acordar ao lado de uma tartaruga laranja que não voa sendo que seu reflexo acorda ao lado de um peixe azul.
Azul e laranja que são cores complementares que me lembram no final o branco do sonho.
Um sonho branco.
Um sonho branco que me tornou fluente na língua do olhar.
Agora o abrir e fechar das pálpebras substituem o abrir e fechar da boca.
Um fio invisível amarra as cavernas entre as íris e se podemos conversar, porque não beijar com os olhos?
Um beijo úmido, tão molhado e intenso que uma lágrima escorre da boca dos olhos até a boca boca. 
Bocas bocas que suspiram de saudade que na realidade não é uma questão de tempo, mas de distância.
E se nada disso fizer sentido nenhum, não tem problema algum.
O amor é seu próprio sentido.



terça-feira, 20 de outubro de 2009

Dois mil e nunca - fato #31



- Essa pinta aqui te faz tão sexy...
- Obrigada, mas isso não é uma pinta.
- Como assim? Então é o que?
- Um pixel.



quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O tempo passa, o tempo voa

e a poupança Bamerindus continua numa boa!

Sou da época em que tubaína não era vintage e era comprada com cruzeiro no buteco da esquina que vendia Miranda e guaraná Taí em garrafas feitas de vidro, como as bolinhas de gude que não eram decoração, mas um esporte nacional como Gogos, só não mais importantes que bater figurinhas, rapar tazos e ver o Senna estourar champanhe no pódio que por sua vez não era mais importante que o futebol que ainda tinha Tafarel e Bebeto ganhando copas do mundo, tudo acompanhado pela tevê que não era digital, não era a cabo nem a satélite, não era plana nem plasma, era um tubo de raios catódicos disfarçado de cubo com a tela curvada para fora onde figuras bizarrézimas como Vovó Mafalda e Fofão entretiam a criançada de manhã, que também gostava de adivinhar em que porta escondia o monstro no programa do Sérgio Mallandro, que não era mais estranho que quatro tartarugas ninja falantes com nomes de gênios renascentistas italianos viciadas em pizza treinadas por um rato gigante de kimono lutarem contra um rinoceronte e um porco que trabalhavam para um chiclete mastigado dentro de um robô de cueca vermelha, mostrinho que só não era mais serelepe que os vilões de isopor e resina facilmente transformados em faíscas pela Espada Olímpica de Jiraya, japa que só não era mais legal que o Jaspion, que tinha cabelo igual ao que mamãe usava para combinar com jaquetas de couro, camisetas largas e calças acima do umbigo que eram a última moda descolada, como podíamos ver na MTV que passava, pasme, clipes musicais como Black or White, com Michael Jackson ainda vivo e que também aparecia Macaulay Culkin, que ainda era uma criança que não usava drogas e aparecia em filmes de Sessão da Tarde, junto com Lagoa Azul, filmes de cachorro, de pimpolhos ninjas e Robocop, mas eu estou falando do Robocop durão, não o Robocop Gay da música dos Mamonas Assassinas, que falando neles, meu pai tinha uma Brasília Amarela que foi trocada mais tarde por um Opala prateado, carrão estiloso para macho, já que direção hidráulica e terceira marcha era coisa de boiola que nem o Freddy Mercury, que deixou saudades assim como Renato Russo, e os dois faziam música em uma época em que música de rebolar era dançada pela Carla Perez, teclado ainda tinha som de teclado e música de video-game ainda tinha som de música de video-game, que só rodavam se a gente soprava o cartucho, mas quando rodavam era uma maravilha passar a tarde correndo com um porco espinho azul, crescendo com cogumelos e dando hadouken em personagens étnicos como um brutamontes russo, e os russos eram sempre os vilões dos filmes que queriam dominar o mundo, e eu nunca entendia o porquê, mas adorava ver o clichê de o mocinho desativar a bomba quando faltava um segundo para tudo ir pelos ares, era sempre uma surpresa, apesar de prevista, como o Kinder Ovo, que custava só 1 real, e tinha o slogan "um chocolate, um brinquedo e uma surpresa", que minha mãe ou meu pai compravam às vezes, trazendo de metrô quando a linha verde ia só até a estação Clínicas e quando ainda não dava para ligar no celular pedindo um ovinho porque celulares ainda não existiam e portanto não tiravam fotos, pois esta era uma atividade restrita às câmeras de filme que não eram coisa de profissional, era coisa de um amador qualquer, ao contrário dos computadores, que estavam começando a ficar populares e a internet era novidade, lerda e discada, que servia basicamente para conversar no icq, era tudo tão lerdo que nem corrente dava para mandar, isso era feito pelo correio, que ainda tinha várias caixinhas amarelas no meio da rua para você deixar cartas, e na rua as pessoas andavam sem iPod, mas com Walkman, que funcionava com fitas cassete, menorzinhas que a dos filmes das videolocadoras que tinha um montão em cada esquina, mas que tinhamos de rebobinar antes de devolver ou de assistir, como quando a gente gravava um programa na tevê, e eu gostava de assistir As aventuras de Tin Tin, Família Dinossauro, Tv Colosso e Cavaleiros do Zodíaco, e desses eu tinha até os bonequinhos de armadura, que devem estar guardados empoeirados em algum lugar junto com meus bloquinhos de Pequeno Engenheiro, meus Playmobils, minhas fichas de fliperama, meu baldinho de Lego, que ainda não tinha engrenagens complexas, e meus carrinhos de fricção, atrás dos quais eu corria com meus tênis que acendiam luzinhas ou com meu Kichute sem me preocupar com política numa época em que o Lula comia PF nem dar a mínima se o mundo iria acabar no ano 2000 com o bug do milênio ou com a invasão alienígena do ET de Varginha. 
Mas isto tudo, meu jovem, é coisa do milênio passado.