quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O tempo passa, o tempo voa

e a poupança Bamerindus continua numa boa!

Sou da época em que tubaína não era vintage e era comprada com cruzeiro no buteco da esquina que vendia Miranda e guaraná Taí em garrafas feitas de vidro, como as bolinhas de gude que não eram decoração, mas um esporte nacional como Gogos, só não mais importantes que bater figurinhas, rapar tazos e ver o Senna estourar champanhe no pódio que por sua vez não era mais importante que o futebol que ainda tinha Tafarel e Bebeto ganhando copas do mundo, tudo acompanhado pela tevê que não era digital, não era a cabo nem a satélite, não era plana nem plasma, era um tubo de raios catódicos disfarçado de cubo com a tela curvada para fora onde figuras bizarrézimas como Vovó Mafalda e Fofão entretiam a criançada de manhã, que também gostava de adivinhar em que porta escondia o monstro no programa do Sérgio Mallandro, que não era mais estranho que quatro tartarugas ninja falantes com nomes de gênios renascentistas italianos viciadas em pizza treinadas por um rato gigante de kimono lutarem contra um rinoceronte e um porco que trabalhavam para um chiclete mastigado dentro de um robô de cueca vermelha, mostrinho que só não era mais serelepe que os vilões de isopor e resina facilmente transformados em faíscas pela Espada Olímpica de Jiraya, japa que só não era mais legal que o Jaspion, que tinha cabelo igual ao que mamãe usava para combinar com jaquetas de couro, camisetas largas e calças acima do umbigo que eram a última moda descolada, como podíamos ver na MTV que passava, pasme, clipes musicais como Black or White, com Michael Jackson ainda vivo e que também aparecia Macaulay Culkin, que ainda era uma criança que não usava drogas e aparecia em filmes de Sessão da Tarde, junto com Lagoa Azul, filmes de cachorro, de pimpolhos ninjas e Robocop, mas eu estou falando do Robocop durão, não o Robocop Gay da música dos Mamonas Assassinas, que falando neles, meu pai tinha uma Brasília Amarela que foi trocada mais tarde por um Opala prateado, carrão estiloso para macho, já que direção hidráulica e terceira marcha era coisa de boiola que nem o Freddy Mercury, que deixou saudades assim como Renato Russo, e os dois faziam música em uma época em que música de rebolar era dançada pela Carla Perez, teclado ainda tinha som de teclado e música de video-game ainda tinha som de música de video-game, que só rodavam se a gente soprava o cartucho, mas quando rodavam era uma maravilha passar a tarde correndo com um porco espinho azul, crescendo com cogumelos e dando hadouken em personagens étnicos como um brutamontes russo, e os russos eram sempre os vilões dos filmes que queriam dominar o mundo, e eu nunca entendia o porquê, mas adorava ver o clichê de o mocinho desativar a bomba quando faltava um segundo para tudo ir pelos ares, era sempre uma surpresa, apesar de prevista, como o Kinder Ovo, que custava só 1 real, e tinha o slogan "um chocolate, um brinquedo e uma surpresa", que minha mãe ou meu pai compravam às vezes, trazendo de metrô quando a linha verde ia só até a estação Clínicas e quando ainda não dava para ligar no celular pedindo um ovinho porque celulares ainda não existiam e portanto não tiravam fotos, pois esta era uma atividade restrita às câmeras de filme que não eram coisa de profissional, era coisa de um amador qualquer, ao contrário dos computadores, que estavam começando a ficar populares e a internet era novidade, lerda e discada, que servia basicamente para conversar no icq, era tudo tão lerdo que nem corrente dava para mandar, isso era feito pelo correio, que ainda tinha várias caixinhas amarelas no meio da rua para você deixar cartas, e na rua as pessoas andavam sem iPod, mas com Walkman, que funcionava com fitas cassete, menorzinhas que a dos filmes das videolocadoras que tinha um montão em cada esquina, mas que tinhamos de rebobinar antes de devolver ou de assistir, como quando a gente gravava um programa na tevê, e eu gostava de assistir As aventuras de Tin Tin, Família Dinossauro, Tv Colosso e Cavaleiros do Zodíaco, e desses eu tinha até os bonequinhos de armadura, que devem estar guardados empoeirados em algum lugar junto com meus bloquinhos de Pequeno Engenheiro, meus Playmobils, minhas fichas de fliperama, meu baldinho de Lego, que ainda não tinha engrenagens complexas, e meus carrinhos de fricção, atrás dos quais eu corria com meus tênis que acendiam luzinhas ou com meu Kichute sem me preocupar com política numa época em que o Lula comia PF nem dar a mínima se o mundo iria acabar no ano 2000 com o bug do milênio ou com a invasão alienígena do ET de Varginha. 
Mas isto tudo, meu jovem, é coisa do milênio passado.



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