segunda-feira, 2 de julho de 2007
Uma alegoria
Em uma longínqua data, certamente incerta, a pedra se fez pedra.
Como, porquê, onde e outras questões metafísicas não cabem ao autor discutir neste texto.
Por muitos milênios, a pedra permaneceu pedra e chão, nada mais.
A pedra era a pedra fundamental, e muito tempo depois serviu como base para a vida, o que também não vem ao caso aqui entrar em especulações e outras coisas que se ensinam na escola.
É claro, chegou a sofrer alguns acidentes, que o autor não precisa ressaltar que são geográficos, durante este longo percurso.
Eras e eras em aparente estático equilíbrio, até que em algum lugar na história, por algum capricho da natureza, surgiu sobre ela uma complexa, talvez também complexada e certamente, acho que não existe esta palavra, complexadora criatura que veio mais tarde a se denominar homem, ser humano, homo sapiens entre outras inúmeras subdenominações como João, Maria, José ou mesmo a vizinha, meu amigo e aquele filha da puta, apenas para citar as mais comuns.
Como todos sabemos, esta é uma das mais intrigantes manias de nossa espécie, nomear tudo, até mesmo aquilo que já possui um ou mais nomes, complicar para facilitar.
Outro comportamento natural nosso é fugir do assunto primordial, assim como o autor está a fazer neste momento, portanto voltemos à pedra.
Pelas patas, mãos, membros superiores ou o nome que preferir, dos hominídeos, a pedra tornou-se lança, machado, faiscador, martelo, projétil, enfim, se a pedra fosse gente certemente teria sofrido uma crise existencial.
Esta multipersonalidade não pára por aí, afinal ela não deixou de ser pedra nem montanha e muito menos chão neste momento que mais tarde foi chamado de Idade da Pedra.
Mas assim como qualquer relacionamento, a pedra foi se desgastando, metafórica e literalmente, assim que o homem conheceu outras (matérias), sem nunca abandonar a pedra por completo.
Com a pedra se ergueram casas, castelos, igrejas, templos, palácios, colossos, colunas, estátuas, escadas, estradas entre tantas outas coisas.
Para estes antigos, a pedra não era mais pedra. A pedra era lar, poder, salvação, sustentação, grandiosidade, rota, enfim, a pedra era quase uma mãe para os antigos, se a pedra fosse gente, com toda essa responsabilidade, provavelmente se esqueceria de ser quem era também.
Mas se a pedra fosse mesmo gente, seria alguém muito prepotente, acharia que é todos os deuses, santos e heróis só porque existe toda uma quantidade de gente que a cultuar sua imagem, não aquilo que ela realmente é. Seria quase como estas mulheres que acham que são inteligentes o suficiente para se tornarem políticas porque existe toda uma quantidade de bolhas de testosterona a cultuar sua bunda, ou uma bolha de testosterona e anabolizantes que acha que é inteligente o suficiente para se tornar um político porque, bom, vocês conhecem a história.
Novamente, voltemos à pedra.
Não mudaram muitas coisas desde então no relacionamento entre a pedra e o homem.
Mas para não acabar aqui, talvez cabe citar que além da mania de dar nomes a coisas que já possuem nomes, a espécie humana usa uma mesma palavra significando outras, o que é mais complexo ainda.
Por exemplo, a pedra tem um sentido semântico, não igual, mas meio parecido com uma pedra no sapato em "no meio do caminho tinha uma pedra".
Aliás, já que fiz tantas analogias, a pedra que é mãe de um também é sogra de alguém.
Para um final feliz, cito a feliz da pedra que caiu nas mãos, membros superiores ou o nome que preferir, de algum escultor, como Brancusi, por exemplo.
Aqui sim, a pedra finalmente deixa de ser somente pedra, mas deixa de ser sem deixar de ser pedra.
Pureza, atemporalidade, transcedentalidade, equilíbrio.
Se a pedra fosse gente, teria atingido a iluminação e diria que a pedra, na verdade, é uma só.
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2 comentários:
a pedra é uma só.
mas as perdas são varias.
ohh!
se a pedra fosse gente, chamar-se-ia (nossa!!!! usei um verbo triplo!!! nossa!!!!) Pedro.
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