quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Rugas

Ninguém sabia ao certo quantos anos se acumulavam na profundeza verde dos olhos de dona Mena.
Só se sabia que ela era velha, muito velha e vivida.
Era
um mistério para todos o número de histórias que se escondiam sob suas rugas e seus cabelos brancos.
Além de saber que ninguém nada sabia sobre a velha cigana, o que todos sabiam era que a misteriosa senhora possuia um dom único de ler o passado, o presente e o futuro.
Nada de mapas astrais, horóscopo, quiromancia, bola de cristal, tripa de ganso, borra de café ou baralho de tarô.
Dona Mena lia rugas.
Ela dizia que havia uma história abstraída em cada vinco.
Cada arrependimento, cada momento intenso, cedo ou tarde se manifestariam como um marco na pele.
As que se manifestavam cedo demais, para ela era uma dica do futuro.
Por isso, ela admirava e gostava de pessoas com cara de papel amassado ou de cotovelo.
Eram bem vividas.
Por outro lado, ela não gostava de gente esticada e com botox.
Dona Mena dizia que quem escondia o passado, tinha vergonha do presente e medo do futuro.
Para os jovens, ela sorria e falava para voltar depois de vinte anos, sem cirurgia nem botox.
Aconselhava também a não correr atrás do tempo, pois a recíproca poderia vir a ser verdadeira.
Depois de tomar um chá com a idosa e sair, todos os jovens pensavam "mas daqui a vinte anos? A velha já vai estar morta..."
É, outra coisa que ninguém sabia é que Dona Mena era amiga do tempo.


Um comentário:

Anônimo disse...
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