quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O fim do mundo

A notícia se espalhara tão rapidamente quanto um vídeo do youtube.
O mundo ia acabar em vinte e quatro horas e desta vez, nem Jack Bauer nem ninguém poderia salvar a humanidade.
Obviamente, quase ninguém foi trabalhar neste dia, com exceção de alguns poucos jornalistas e pessoas miseráveis ou de culturas tribais sem acesso a tal informação.
No resto do mundo, porém, em poucos minutos, todo dinheiro, preservativos e anticoncepcionais do planeta deixaram de ter sentido, o fato do mundo acabar num sábado não fazia a menor diferença e o caos tomou as ruas.
Famílias se abraçavam e choravam em igrejas mais cheias que a 25 de março em véspera de natal, declarações de amor e de perdão saturavam o ar juntamente com a fumaça de cigarros, narcóticos e qualquer outra coisa que soltasse fumaça, conhecidos em lágrimas se suicidavam em massa enquanto desconhecidos alucinados e sorridentes se amontoavam em orgias públicas, prisioneiros e loucos perambulavam soltos e saciavam a sede de vingança, lojas eram saqueadas e mulheres se cegavam com os saltos dos sapatos competindo pela última lata de caviar, coma alcóolico e overdose se tornaram uma epidemia, pessoas limpavam a bunda com notas de cem, atos de vandalismo aconteciam na rua paralela à avenida em que se juntavam pessoas vestidas de branco de mãos dadas cantarolando canções de paz e esperança, caçadores e outros portadores de armas caçavam gente por pura diversão, os sismógrafos do oriente médio registravam um pequeno tremor devido a milhares de suicidas com vários quilos de explosivos amarrados ao corpo que se explodiam simultaneamente e pessoas nuas corriam empurrando carrinhos de supermercado com outras pessoas nuas dentro enquanto João tomava um cafezinho e olhava pela janela com um sorriso.
Ele era dono dos meios de comunicação e o fim do mundo era invenção sua.
Não, o planeta não ia se explodir, mas com certeza era o fim do mundo como as pessoas o conheciam.

Um comentário:

KK disse...

Os seus textos estão bem legais... você começou a usar uma ironia engraçadíssima, estou me matando de rir aqui...

sobretudo o texto da religião!

Abraços,

e desculpe pelo meu sumiço.