quarta-feira, 5 de março de 2008

Nota sobre o ato de escrever

Todo escritor é um colecionador de idéias, um arquivo de rascunhos mentais.
Sua mente é uma mente sem âncora num mar turbulento que, no caminho para materializar em palavras seus pensamentos e divagações, perde grande parte daquilo que carregava no início da jornada e, quiçá, se perdendo de sua rota inicial ou mesmo naufragando.
Embora alguns possam dizer que o ser humano pensa por palavras, algumas idéias são indizíveis, intraduzíveis para uma linguagem convencional.
Assim, às vezes, mesmo inspirado e com idéias palpitantes, o escritor põe a caneta no papel, mas deixa-o em branco.
Certas coisas abstratas têm como barreira de comunicação o mundo físico.
Por outro lado, às vezes, sem idéia nenhuma, o escritor toca o papel com a caneta e palavras começam a jorrar da ponta desta, preenchendo o papel quase como uma criatura independente.
Mais que um desejo do próprio artista, é um desejo comum de ambos objetos.
Ou talvez, mais que um simples desejo, é uma necessidade física que ambos, como dois amantes na calada da noite, sentem.
O escritor, assim, torna-se um instrumento que permite que as palavras, até então espectros imateriais, ganhem corpo físico ao marcarem o papel.
Escrever torna-se, então, um ato ambivalente.
É preciso pensar para escrever, mas, às vezes, é preciso escrever para poder pensar.

Um comentário:

Anônimo disse...

"às vezes, é preciso escrever para poder pensar." - muito verdade.