domingo, 29 de novembro de 2009

Viajando no ônibus - 3° divagação



Estou sem nada para ler, o que fazer?
Feche os olhos.
Respire fundo.
Isto.
Ouça o que há ao seu redor.
Pesque a conversa alheia.
É muito interessante. 
Uma viagem sonora, uma cacofonia, um palimpsesto nonsense.


Ô motorista, vai descer, abre a porta aí porque segundo a dialética negativa do Adorno, aquele professor filha da puta passa na Paulista, vê que coincidência? Além disso eu briguei com meu pai de novo, maldito governo, e depois encontrei ele na festa de ontem super bêbado e, desesperado porque perdi meu emprego, fiz minhas unhas num salão perto de casa no dia que choveu pra caralho. Falando nisso, quando eu era pequeno eu tava trampando lá no banco, mas eu tava meia calabreza e meia escarola e acabei voltando a pé por causa do cara que vem com a mesma roupa todo dia. É muito legal, tá no youtube, até tirei foto, ele teve filhos super cedo e não sei porquê todo mundo fala tanto no livro que tem piscina, quadra, cento e noventa e dois cavalos e vi em promoção nas casas bahia. Na hora eu não acreditei e gritei Deus do céu, que calor infernal é esse, eu te amo, quer que segure sua dívida externa com fritas?



quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Coincidência



Como definir a sensação que uma coincidência causa em nós?
Talvez uma espécie de susto com um sorriso com medo com dúvida com indignação com sorte com não, não é nada disso.
Mas para que definir, se não sou filósofo nem dicionário para me preocupar com isso? 
Não importa, não estou aqui para isto. 
O que importa é que antes, para mim, a coincidência era uma quimera de sete cabeças que me assombrava durante dias quando vinha pousar sobre minha sorte, mas hoje, depois de tantas visitas tão frequentes, já não estranho nem temo o bichinho. 
Afinal, nunca me fez mal algum e, pelo contrário, muitas vezes me trouxe muita sorte.
Assim como os antigos, que veneravam certas criaturas, considero esta como um sinal de bom agouro. 
O legal é que quanto mais gosto dela, mais ela aparece para mim.
Como disse, já não temo nem estranho a coincidência. Mas me surpreendo, é fato. 
Sempre me assusta, de tão inesperada sua chegada, mas logo penso "ah, é você de novo, danadinha!" e pego ela em minha mão para observá-la. 
Nunca consigo entedê-la, nunca consigo desvendá-la, até porque, uma das cabeças dela tem forma de esfinge.
Mas sempre adoro quando ela chega assim perto de mim. Tão bela, tão poética, tão misteriosa, tão poderosa que é o bichinho.
Mas tão de súbito ela vem, sem aviso ela se vai, sem deixar rastros, sem deixar respostas, sem deixar nada além de uma poeira fina que quando respiro me dá um arrepiozinho.
E você deve estar se perguntando, e qual é a moral da história?
Nenhuma.
Não estou escrevendo com um objetivo, apenas estou escrevendo, porque a última visita que ela me fez acabou despertando em mim este desejo de escrever sobre ela.
Estava eu a reler Todos os Nomes, do Saramago, acompanhando passo a passo os dias do Sr. José, protagonista da história e quando chego ao, não se preocupe, não vou estragar o final, quando chego ao final, viro a última página e ali encontro uma nota fiscal meio apagada onde se lê "de Registro Civil das Pessoas Naturais". 
Uma notinha fiscal, nada de mais, se Sr. José não trabalhasse na Conservatória Geral do Registro Civil. 
Depois fui descobrir que minha mãe, por acaso, sem ter com que marcar as páginas, pegou o primeiro papel que estava ao alcance de suas mãos e havia usado aquele papel para marcar as páginas.
Podia ter sido qualquer outro papel, qualquer outra nota fiscal.
Coincidência.
Daí, maravilhado com isso, lembrei de outro livro.
Quando fui comprar Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho em inglês, fui à livraria numa quinta-feira.
Como não havia nenhum exemplar no estoque, o funcionário encomendou e disse para eu buscar o livro na terça-feira, dia que fui, comprei e comecei a ler.
Exatamente uma semana depois, numa terça-feira, acabei de ler os livros e fiquei sabendo que terça-feira era o dia da semana que Lewis Carrol, pseudônimo do autor, considerava como seu dia de sorte.
Coincidência.
Semana passada, minha mãe estava a falar que não conhecia muitos Vinícius, que não era um nome tão comum, e quando ouvi o nome, lembrei que na noite anterior havia sonhado com Vinícius de Moraes.
Coincidência.
E houve certa vez um outro sonho, em que fui atacado por três cachorros brancos grandes. Acordei aliviado, sabendo que não é todo dia que se vê três cachorros brancos grandes juntos em um mesmo lugar, até que algumas horas depois, um velho amigo de meu pai convida-nos para jantar em sua casa naquela noite e lá no quintal, o que havia?
Pois é, nem cheguei perto deles.
Coincidência.
Falando em amigos de meu pai, meu pai ficou anos sem ter notícias de um velho amigo, até que um dia ele pegou um caminho que nunca faz, sem motivo algum, e encontrou a esposa deste seu amigo. Naquele dia, fazia exatamente um ano que a mulher com quem ele se encontrou havia se tornado viúva.
Coincidência.
E se continuar a fazer uma retrospectiva então, vixi, a lista é grande.
Só para falar muito por cima das recentes deste último ano, limão, pés, Trianon, número quatro, valsas, uniforme, som estéreo, sem açúcar, apelidos de parentes, Clarice, casa brasileira, Angra, batatas e cervejas, FAU, retas, ondas, nomes e sobrenomes, sonhos, ligações, mensagens, música, telepatia, antepassados, desejos, cicatrizes, vidas, livros, e por aí vai.
Sinceramente, não se o que seria de minha vida sem a coincidência.
Selvagem, voa livre, enigmática como uma esfinge, silenciosa e manhosa como um gato. 
Bichinho bonito, essa coincidência.





terça-feira, 17 de novembro de 2009

A Bailarina



Procurando bem

Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem



Vida de artista não é fácil.
Hoje passei por uma obra do metrô e vi uma moça pegando pesado na construção, levantando entulho para carregar um caminhão.
Dei uma boa olhada na bunda dela. Estava escrito Caterpillar.


Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem



Lembrei então que conhecia a moça de um espetáculo, um dos melhores espetáculos de dança à que já assisti.
Moça grande, meio esquisita, com um braço só, mas um baita dum braço forte, filha do meio de mais de cem irmãs, nasceu bastante saudável e já com mais de duas toneladas.
Levou uma vida bastante difícil e, até onde sei, foi vendida pela família para trabalhar na construção em regime escravo.


Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem


Até que um dia sua sorte mudou, e um bailarino da Cia. Beau Geste apaixonou-se pelos movimentos da pobre moça e convidou-a para rodar.
Foi então que a conheci.


Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem


Na Virada Cultural deste ano, fui ao Anhangabaú assistir, ao lado do palco do Balé da Cidade, num cantinho ali, ao lindo balé do casal.
A Bela era a Fera, e naquela dança inusitada entre um homem e uma escavadeira, havia uma beleza inacreditável e indizível.


O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem


Uma dança delicada, sutil, e a escavadeira, que à primeira vista era um monstro, mostrou ser tão feminina quanto se pode ser naquela dança estranhamente romântica.
Mas foi isso, teve sua chance de brilhar uma vez no palco e receber calorosas palmas, para depois voltar para o anonimato da vida dura e comum.
Como a maioria dos artistas.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Bostejando novamente sobre a FAU



Na análise anterior, ative-me somente a ressaltar a insuperável poética inerente ao Edifício Vilanova Artigas, popularmente conhecido como o prédio da FAU. Peço desculpas àqueles que leram o texto escrito e publicado neste mesmo meio de expressão virtual em março deste ano, mas devo confessar que tal poética me comoveu tanto que, no momento de expressão de minhas impressões sobre tal colosso, acabei deixando que meus sentimentos de profunda admiração me fizessem omitir uma parte importantíssima que também é inerente à construção do modernista que dá nome à sua esplendorosa criação.
Tratando-se de uma faculdade, isto é, um local de ensino, de reflexão, de aprendizado, de amadurecimento, de questionamentos e de críticas, de arquitetura e urbanismo, nada mais didático que o próprio ambiente de formação refletir o objeto de aprendizado e o próprio ensino.
O calouro chega, ainda acostumado com as salas de aula de seu antigo colégio e cursinho, e vê a monumentalidade do edifício. Maravilhado com a plasticidade moderna, ele admira as rampas, os andares em patamares distintos, os espaços abertos, a honestidade do concreto armado. Tudo que o cerca é beleza e perfeição sob a luz do dia transpassando o gigantesco wafer que paira sobre sua cabeça, e a FAU certamente é o lugar mais bonito que há no mundo, com a melhor infra-estrutura e os melhores professores que dão as melhores aulas.
Com o passar do tempo, porém, o aluno, antes recém saído da adolescência, agora encara sua própria maturidade. Com o conteúdo aprendido graças à FAU, mas nem sempre ensinado por ela, com o convívio diário com os colegas, com os docentes e com o próprio edifício, ela aprimora o seu senso crítico, eleva seu nível de exigência e questiona e critica o sistema de ensino, os colegas, os professores e, obviamente, o próprio edifício.
É neste instante, então, que ele descobre o segredo por baixo do concreto armado.
Ele percebe a ilusão e a desilusão. 
Ele descobre a resposta como um arqueiro zen.
No início, havia um grande deslumbramento, uma grande admiração, uma grande expectativa.
Com o passar dos anos, a distância entre biblioteca e xerox, entre cantina e os banheiros sempre distantes que dificultam a vida daqueles cujas necessidades fisiológicas excretais e digestivas são urgentes começam a incomodar cada vez mais.
As rampas de acesso que não permitem cadeirantes circularem sozinhos, o elevador que não chega em todos os andares, a falta de segurança com guarda-corpos inapropriados, os domos de fibra de vidro mal pintados que descascam e deixam a água da chuva passearem pelas salas e aumentam o nível de decibéis para que os docentes parem a aula reprimidos pela natureza, a falta de planejamento acústico das salas de aula e estúdios, o teto de estalactites que pingam um líquido fétido cor de café sobre maquetes, roupas brancas, cabelos recém lavados, impressos caros, telas de notebooks e que se infiltram entre suas teclas, cada detalhe é friamente calculado para que o estudante de arquitetura saiba exatamente o que não fazer.
A FAU não lhe dá as respostas de que caminho seguir, ela dá a liberdade para o aluno traçar seu próprio rumo, apenas alertando-o do que não deve ser feito, e isto se esconde debaixo do concreto armado do prédio, milimetricamente calculado para que um vento gelado sopre nos dias de frio e para que nos dias de calor, não haja circulação de ar.
E os professores também colaboram. Secretamente, alguns deles, por incrível que pareça, os mais odiados pelos graduandos, recebem um treinamento com mestres Jedi dos cantos mais distantes das galáxias inacessíveis, para que eles não dêem o conhecimento de mão beijada. Eles são instruídos a dar uma aula bem ruim, e cobrar resultados humanamente impossíveis, de forma que cada aluno tenha de buscar o conhecimento por conta própria.
Esta é mais uma característica inerente ao glorioso impávido colosso.
O tudo tudificador que potencializa as potencialidades socio-ambientais que permeiam seu interior e seu entorno ensina os caminhos a não seguir para que o aprendiz saiba aonde ir, é a tese e a antítese, o yin e o yang, o equilíbrio do universo.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Sinais de 2012



Sim, o fim do mundo está próximo!
Que calendário maia o que, à merda com as profecias.
É só ver ao seu redor.

Gzéntsy, o Mackenzie tá fazendo propaganda no Orkutsy!
É tão legal! Eu abri meu perfil lindoso e vi lá no cantsinho direito, o Mzão do Mackenzie e Educação e Cidadania desde 1870!
Que fashion, gzéntsi, acho que vou fazer!
Bem melhor que ficar lá na usp, não tem moda e só tem aquele bando de maconheiro barbudo vagabundo que não toma banho nem faz compras na Daslu!
Ui!








comentário pessoal: putaqueopariu