quarta-feira, 7 de maio de 2008

O dia em que eu morri

- Você é o próximo. Pode entrar que a doutora já já vai estar te atendendo.
Estar te atendendo. Que horror. Só não é pior que esta maldita sala de espera.
- (sorriso amarelo) Obrigado.
Eu me levantei e me dirigi à porta de madeira com uma plaquinha metálica estampada com o nome da médica, deixando finalmente aquele lugar irritante.
Dentro do consultório, examinei a sala e os enfeites na mesa. Na parede, estavam os diplomas e outros papéis da tão renomada doutora. Infelimente, não pude sequer ler um, pois logo entrou por uma outra porta a mulher de jaleco branco mais bela e doce que já vi em toda minha vida.
- Olá, como vai?
Voz bonita. Sorriso bonito. Toda bonita.
- Vou bem, doutora, vou bem.
Ela notou que eu estou olhando que nem bobo para ela.
- Doutora, espero que isto não atrapalhe a consulta, mas devo dizer que você é a mulher mais bela e doce que já conheci.
- Oh, obrigada! (sorriso) É muito gentil da sua parte. A maioria não acha isso de mim.
- Ora, estou apenas dizendo a verdade.
Ouvindo isto, a médica olhou-me de cima a baixo, deu um sorrisinho malicioso e disse:
- Bom, mas vamos ao que interessa.
E num gesto selvagem abriu minha camisa e pegou o estetoscópio para escutar meu coração.
- E então, o que ele te diz?
Sem dizer nada, ela colou seu corpo curvilíneo no meu, olhou-me no fundo de meus olhos e beijou minha boca com seus lábios vermelhos e carnudos.
Ah, ela com certeza sabia o que estava fazendo! Seus lábios juntos aos meus pareciam drenar minhas forças tamanha era a intensidade daquele beijo único.
- E agora, doutora, o que meu coração te diz?
Ela encostou a orelha em meu peito.
- Nada. Absolutamente nada. Não está batendo.
- O quê?! Não está batendo?
- Calma isso é ótimo! Quer dizer que consegui te curar com um beijinho.
Ah, a doce doutora Morte! Diziam que até hoje, não havia sequer um paciente que ela não conseguiu curar. Quando nenhum médico conseguia achar a cura para uma doença, lá estava ela. Quando nada parecia cicatrizar um ferimento de qualquer tipo e tamanho, sua experiência conseguia dar um jeito.
Ela era a única que curava doenças jamais vistas e até mesmo câncer.
- Você está ótimo. Já pode ir.
- Como assim? Mas e o beijo? Eu estava só começando...
- Você ouviu, pode ir.
Que vadia.
E quando eu estava prestes a abrir a porta, senti meu coração voltar a bater.
- Dou... doutora, espere, tem algo errado comigo!
Ela novamente usou o estetoscópio, correu para a mesa, apertou um botão no telefone e disse:
- Rápido, chame a emergência!
Desesperada, ela armou uma maca e me fez deitar.
- Vamos! Diga-me que parentes falecidos eu devo contatar caso aconteça alguma coisa!
- Avise meu avô ou minha avó.
- Está certo. E qual é o seu convênio? Também tenho de avisar seu convênio!
- Convênio?
- Cristão, Judeu, Budista, Muçulmano, você sabe, rápido, você não tem muito tempo.
- Ahhh tá. Não tenho. Sou ateu.
- Ah, ok, ok.
- Doutora Morte, sinto que vou voltar... pode só me dizer para onde vai ou o que acontece com quem morre?
- Olha... na v

- Batimentos estabilizados em 72. Pressão ainda baixa, mas subindo. Pode desligar o desfibrilador.



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