Caminhava lentamente, sob um espectro de cores que só o céu poderia ter.
No horizonte, sobre um circular espelho d'água, erguia-se aquele grande monolito retilíneo e vertical, que sugeria uma invisível reta que dividia ao meio o dia, entre o Sol e a Lua, e o infinito arco da miragem do limite da Terra.
Deveras, uma bela visão naquele dia morto em que as horas pareciam não passar e em que todos os relógios pareciam marcar uma eternidade rotativa.
De fato, marcavam, realmente, uma eternidade rotativa, mas naquele momento, pouco lhe importava.
A preguiça do tempo era insuportável, mas também era contagiante, e o fez se sentar para recepcionar, sob a sombra da grande reta, a escuridão estrelar que chegaria em breve.
Enquanto esperava, o vento soprava, varrendo as folhas caídas, desarrumando seus cabelos e acariciando a água que ilhava o monumento.
O ar se movia e, em sincronia, a água se deixava mover, fazendo bailar sobre ela os reflexos das nuvens e do monolito, cujas retas, tão imponentes no ar, tornavam-se graciosas curvas e ondas no líquido.
Neste exato momento, o vento soprou-lhe um pensamento: na visão de alguém submerso, a imagem vista seria o exato oposto, as retas do monolito, tão imponentes debaixo d'água, tornariam-se graciosas curvas e ondas no ar.
Separadas por uma camada ilusória, as visões eram uma só, sendo que o único fator que mudava era apenas o ambiente em que se encontrariam os observadores, cada um de um lado do espelho.
O vento, então, soprou mais forte, trazendo-lhe outro pensamento: e se os observadores se deparassem, vendo o outro na trêmula face reflexiva da água? Achariam que é um reflexo ou reconheceriam uma outra pessoa do outro lado do espelho?
Sem responder a si, ao menos com palavras claras e distintas, ele se levantou e continuou a caminhar lentamente, agora sob uma pálida luz que só a Lua poderia ter.
Um comentário:
esse monolito me faz lembrar a praça do relógio na USP...
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