domingo, 23 de dezembro de 2007

Nota sobre o Natal 2

Ele nos vigia o ano inteiro.
Ele sabe quem fez besteira quem não fez.
Ele sabe tudo o que você aprontou escondido.
Ele sabe onde o Bin Laden está escondido.
Ele sobrevive por royalties da Coca-Cola, que pagou pra ele mudar o uniforme de azul para vermelho.
Ele dá presentes caros para crianças ricas e brinquedos vagabundos para as crianças pobres.
Ele contrata milhões de gorduchinhos barbudos para fazer propaganda de sua imagem.
Ele pagou uma nota para comprar a posse do Natal de Jesus.
Ele gosta muito de crianças.
E só de crianças.
Ele sabe o que você fez no verão passado.
E as pessoas ainda acham ele legal.


Aposto que o Papai Noel trabalha para a CIA.


Nota sobre o Natal 1

Acredito em duendes, fadas, gnomos, papai noel e deus.


sábado, 15 de dezembro de 2007

Sábado


Parece haver um boato de que o mundo acaba num sábado.


sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Sexta


Sinônimo da palavra alívio.



quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Quinta


Algumas quintas, algumas, são um botão de rosa.



quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Quarta


Bipolar.
No limiar entre o ainda e o já.



terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Terça


Não importa o quão azul seja o vestido.
Terças são sempre cinzas.




segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Segunda


O dia amanhece resmungando.
Suspiros, mau humor e desencanto.
Como uma ressaca do final de semana, é o dia mais humano.
E urbano.



domingo, 9 de dezembro de 2007

Domingo

Não há carros nem gente nas ruas.
As árvores devem se sentir aliviadas.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Conversa de bar

Ambiente escuro, com pouca luz.
Murmurinhos e uma musiquinha chata ao fundo.
Quatro garrafas de cerveja sobre a mesa.
Três vazias e uma pela metade.
Dois copos saem das mãos e pousam sobre a mesa.
Um cinzeiro é deixado pelo garçom.
De um lado, dedos finos e pálidos com as unhas bem feitas tiram da bolsa um maço de cigarros.
- (solta a fumaça) Olha aquele casal ali, aposto que o cara, na verdade, é gay.
Do outro, uma mão grande passa pelo cabelo curto.
- (arruma o óculos) Por que você diz isso?
- Porque ele é. Um terço dos homens são gays, outro um terço também e ou não sabem, ou têm medo ou são enrustidos e só o um terço restante não é gay.
- Isso quer dizer que aquele cara ali com aquela mulher, segundo você, se encaixa na classificação dois, certo?
- É, (puxa o cigarro) mas acho que ele é um dos que tem medo.
- Então coitadinho desse casal. (bebe um gole) Ela está com um cara inseguro que vai passar a vida com medo de virar gay e depois com medo de ter um filho gay. (esvazia o copo)
- (suspira e solta a fumaça) É, o maior temor dos homens. (bebe um gole)
- (enche o copo, esvaziando a garrafa) Enquanto o maior medo das mulheres é não encontrar um machista homofóbico antes dos quarenta.
- Depois, (bate o cigarro no cinzeiro) é medo do cara transar com a secretária ou de trocá-la por mulheres de pixels. (traga o cigarro)
- Hahaha, mas é claro! (bebe mais um gole) Internet com banda larga e jogo de futebol na tv é o melhor refúgio antes da terapia de casal.
- (bate duas vezes o cigarro no cinzeiro) Isso para os homens. Para as mulheres é face-lifting, botox e chapinha. Acho que não conheço quase nenhuma mulher que aceita a idade e o envelhecer. É tudo tão natural! (traga o cigarro)
- (esvazia o copo) Falando nisso, você tem idéia de quanto gasta uma mulher só para não ficar escrota?
- (solta fumaça) Claro! (apaga o cigarro) Depilação, shampoo especial, condicionador reparador, cremes hidrantates para o cabelo, para as mãos, para o corpo, anti-rugas, manicure, pedicure, cabelereiro...
(bebe um gole e acende outro cigarro)
- Pois é, gasta se uma fortuna...(acena para o garçom trazer mais uma garrafa)
- E com a idade tudo piora. Bom, para todos. Pelo menos inventaram o viagra. (enche os pulmões de fumaça)
- (enche o copo e toma um gole) Bom para você. Para mim ainda não inventaram nada.
- (solta a fumaça) Mas você ainda é nova. Acho que nunca conheci uma lésbica velha.
- Haha, é porque o número de velhinhos gays que nem você é bem maior! (esvazia o copo)


domingo, 18 de novembro de 2007

Manual de sobrevivência do mundo "civilizado"

  • Faça os outros acharem que você é legal. É mais fácil roubar de quem confia em você.
  • Finja sentir compaixão pelos pobres. As pessoas vão achar que você é legal.
  • Corte árvores ilegalmente, mas coloque plaquinhas com seu nome nas que você plantar.
  • Crie um blog contra o sistema. Quando ele receber mais de 100 visitas diárias, prostitua-o para o sistema e venda cacarecos com frases e personagens contra o sistema.
  • Nem pense em escrever um livro sem antes virar prostituta. Lembre-se, poemas são bonitos, mas contos eróticos dão dinheiro.
  • Não saia dando conselhos idiotas por aí, anote todos e lance um livro de auto-ajuda.
  • Sinceridade é a chave do sucesso. Se conseguir fingir isso, estará feito.
  • Crie bichinhos fofos para protagonizarem uma animação em flash, quadrinhos, filmes, etc. Crie chaveiros, canecas, camisetas e outras tranqueiras com os bichinhos. Crianças são alvos fáceis e um investimento futuro, pois continuarão consumindo seu produto quando ele virar retrô.
  • Honestidade, verdade, honra, generosidade, etc são valores que todos admiram, mas que não dá dinheiro algum.
  • Arte pela arte é um investimento com resultados quase sempre póstumos.
  • Se você for daqueles que polue o ar, a terra, o lençol freático e seus empregados, recicle o lixo e todos vão esquecer do resto.
  • Se matar alguém, disfarce-a de mendigo. As pessoas só notam que eles morreram quando começam a feder cadáver.
  • Se você for um político e te pegarem fazendo merda, esconda-se em uma de suas fazendas e volte a concorrer no ano seguinte.
  • Decote, mini-saia e silicone conquistam qualquer homem.
  • Dê o que quiser para quem bem entender, mas se for engravidar, que seja de um ricaço.
  • Quem dá para os pobres, paga o motel.
  • Tente concorrer para aparecer no Big Brother. A população sempre deixa rico qualquer idiota acéfalo que aparece por lá.
  • Se seus negócios na sua funilaria clandestina estão mal, saia amassando inocentes pára-choques dos carros nos arredores.
  • Todos têm seu preço, nem que seja a própria vida.
  • Organize eventos de coisas orientais + palavras nada a ver, do tipo "curso de meditação quântica", "escola de ioga astronômico" ou "tai chi chuan intergaláctico" e cobre uma nota preta dos interessados.
  • Vicie as gordinhas em produtos light. Assim elas sempre continuarão gordinhas e consumindo seus produtos.
  • Se você não está conseguindo vender seus tamarindos com agrotóxicos, pague uma revista popular para publicar que tamarindo com agrotóxicos faz bem para a saúde.
  • Para que transgredir a lei se há tantas maneiras legais de roubar?
  • Abra uma faculdade e chame um famoso sem diploma para fazer propaganda. É a melhor maneira de sugar dinheiro dos burros que acham que são inteligentes.
  • Abrir uma igreja sempre funciona. Você vende uma mentira para dar algum sentido na vida dos miseráveis e em troca recebe metade de salário de cada um e nem tem de declarar no imposto de renda.
  • Conte histórias comoventes para as pessoas chorarem. Depois, venda-lhes lenços.
  • Se sua consciência pesar, venda-a por quilo.

sábado, 17 de novembro de 2007

Questão de tempo

Não não, o tempo não questiona nada.
Mas pelo menos nos faz questionar.
Cedo ou tarde nos faz questionar.
É só uma questão de tempo.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Angra dos Reis

a bordo do navio fantasia
cavo sulcos na água
como um dedo
que corre
a areia

na
calma
reconfortante
do silêncio sussurram
somente o mar e a brisa salina
que acaricia meu rosto
com seus suaves
beijos úmidos

acima no céu
ainda escuro
o sol inicia
sua caçada
contra as
sombras

seu calor
alaranjado
derrete as delicadas
calotas polares do céu

sua luz transforma o mar
de mercúrio da noite
em um fluido azul
no qual baila
seu reflexo
dourado
longilíneo
como uma
ave maiastra

e o grande sol
no céu da aurora
troca um olhar com a lua
e continuam seu infinito jogo
o sol corre atrás da lua
que corre atrás do sol
sem jamais se
encontrarem
assim como
você e eu
como
nós



quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Inocência

é ver uma poça d'água
e enxergar um portal para o céu
é inflar-se com o cheiro da chuva
para atirar-se no líquido celeste
é nadar entre as nuvens e engasgar estrelas
e sair com as roupas pintadas de lama



terça-feira, 16 de outubro de 2007

Cinderela

A luz refletiu no rosto do homem e chegou aos olhos dela.
Ao receber aquele estímulo visual, seu cérebro interpretou-o como sendo compatível com os requisitos de beleza guardados em sua memória.
Ele se aproximou dela e começou a conversar.
Agora, além do estímulo visual, havia também o estímulo auditivo, que seu cérebro interpretava como sendo uma voz
masculina muito bela. As mudanças de frequência de sua voz produzia sons diferentes que o cérebro da mulher interpretava como palavras com significados, cujo conteúdo agradava-a muito.
Em breve, haveria o contato físico e os nervos táteis enviariam correntes elétricas ao cérebro, que por sua vez liberaria endorfina na corrente sanguínea e dar-lhe a sensação de prazer.
Não faltaria muito, então, para seu corpo produzir altas quantidades de neurotrofina.
Euforia, suor nas mãos, frio no estômago, aceleração cardíaca, bochechas rosadas, prazer, saudades,
dependência, etc.
Depois, passado um ou dois anos, os níveis de neurotrofina diminuiriam e se dirá que a paixão acabou.
Com sorte, a neurotrofina dará lugar à oxitocina e se dirá que o que ela sente é amor.
Apesar de pensar em tudo isso enquanto conversava com o homem, de lembrar de todas suas desilusões, de passar noites comendo chocolates enquanto falava "homem não presta" para uma amiga no telefone e de afirmar ser uma mulher independente, ela cedia.
Ela cedia, pois sabia que embora todas suas amigas queimassem sutiãs como forma de protesto feminista, nenhuma delas queimariam a história de Cinderela.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Viajando no ônibus - 2° divagação

Ônibus.
Um grande enlatado de gente.
Uma embalagem reutilizável.
Um transportador de carne.
Sim, de carne.
Que repugnância.
De fato, a princípio ninguém pega ônibus porque quer.
Ele é um mero meio, não um fim.
Já porta do ônibus me encanta com suas propriedades mágicas.
Ela é um filtro.
Nosso corpo entra, mas nossa mente não.
Deixamos nossa interface física com o mundo e vamos para qualquer outro lugar que não seja onde estamos.
A pequena mulher ao meu lado, por exemplo, dorme tranquilamente.
As trepidações não a incomodam e o barulho não perturba seu sono de mercúrio.
Ela dorme.
Seu corpo inerte está quase babando em meu ombro, mas ela não percebe.
Certamente, a moça está mergulhada em outra dimensão, na realidade paralela dos sonhos.
Já o jovem no banco ao lado fugiu para o mundo platônico.
Em suas mãos peludas, as páginas de A República o desligam do que se passa ao seu redor.
Tarde demais, o jovem foi transportado para séculos atrás.
Enquanto isso, a senhora adiposa perto da catraca mantém seu olhar inexpressivo fixo na janela.
Seus olhos caídos enxergam seu próprio reflexo lá fora, flutuando sobre as manchas rápidas que correm na direção contrária do veículo.
Mas, certamente, ela não está enxergando o que se passa lá fora.
É lá fora, flutuando, que ela realmente está.
Apesar de quase ninguém estar presente naquele local confinado, perto da senhora há um adolescente que presta atenção e se incomoda com o ambiente.
Obviamente, jamais percorrera este trajeto antes.
Quando se acostumar, porém, também vai deixar seu corpo ali e fugir para longe, até chegar a hora de recolher sua interface.
Mas até lá, sofrerá com sovaco suado na cara, seios nas costas, cotovelo na orelha, maleta no umbigo e tênis no joelho.
Sem nossas mentes ali, nossos corpos parecem iguais e se fundem naquele repugnante, úmido e fétido bolo quase fecal prestes a sair pelos fundos.
Sim, somos apenas um bolo de carne, engolido pelo monstro geométrico urbano.
Ele suga de nós o que precisa e sai defecando pela cidade inteira a parte não digerida.

Isso acontece sempre, com exceção daqueles que já passaram da validade.
Estes são regugitados pelo mesmo orifício por onde entraram.
Que repugnância.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Viajando no ônibus - 1° divagação

Ônibus.
Uma palavra proparoxítona cuja função é designar uma espécie de conteiner-aquário motorizado.
Esse grande paralelepípedo oco carrega, em seu interior, um ecossistema em constante mutação e de uma biodiversidade incrível.
É engraçado como cada espécie, mesmo com metade do corpo em contato com o de outra, mantém uma distância imensurável desta, cada qual fechada em seu próprio nicho ecológico de preocupações e pensamentos.
Eu, por exemplo, estou divagando sobre as pessoas dentro do mesmo ônibus que eu, ombro a ombro com um homem de no mínimo 1,85m de altura, sem saber a cor da gravata que ele está usando.
Por isso, eu olho a gravata dele e descubro que é cinza com listras brancas diagonais descendentes da esquerda para a direita, muito bem atada, provavelmente com um nó francês.
Depois disso, me pergunto:
E daí?
E me dou conta que é bem mais interessante eu ficar quietinho divagando no meu, só meu, nicho ecológico.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

...

Estarrecida, a multidão aglomerava-se em frente à grande escultura de metal.
Trágica e artística, a obra causava tamanho fascínio naqueles que a viam que os guardas no local montaram uma barreira para impedir que os expectadores tocassem o objeto.
No ápice de sua expressividade, o artista realizara sua última escultura em uma performance inigualável.
No auge do domínio de sua técnica, o mestre testara todos os limites de seu instrumento antes de chegar ao resultado final.
Com sua expressividade única, a escultura abstrata tocava a todos, sem exceção.
Era uma verdadeira obra prima, portadora de um
tamanho poder que, mesmo aqueles que estavam mais longe e ainda não a haviam visto, sabiam que havia algo demasiadamente humano escondido em algum lugar daquela forma irreconhecível.
Era como se o sangue ainda quente do próprio artista estivesse correndo lá dentro, buscando uma fresta para libertar-se da obra.
Vista de um determinado ângulo, era possível ver o próprio autor da obra e seu rosto sereno, com um leve sorriso de quem atingiu seu sonho.
Do outro lado, alguns afirmavam conseguir ver uma mulher com uma agonizante expressão de horror.
Fosse o que vissem, o fato é que o metal retorcido emocionava todos aqueles que o viam.
Lágrimas, espanto, curiosidade, indignação, fascínio e horror.
Entre tantos sentimentos em pessoas tão diferentes, o artista conseguiu tocar a verdadeira essência humana.
Sem exceção, todos queriam ver por si mesmos o metal disforme, mesmo sabendo das fortes emoções que tal visão poderia lhes causar, pois no fundo sabiam que todos aqueles que viram a obra sentiam, silenciosamente, alívio e prazer por não estarem no lugar da mulher morta, presa no carro jogado para fora da estrada pelo grandioso artista
.

sábado, 29 de setembro de 2007

A vida é assim

A vida é assim.

Um dia você acorda e percebe que seu corpo é de uma barata gigante.
Nada de mais - você pensa - é só uma metáfora, nada mais.
Então você se levanta, vai ao banheiro e, quando se olha no espelho, enxerga uma ampulheta.
É neste exato momento que você percebe que o tempo não existe, apesar de existir, e ao tomar conhecimento deste fato, você sente, não uma náusea, mas A Náusea.
O pior é que ela aumenta.
Aumenta tanto que você sente como se a civilização estivesse em seu interior, e todo mal estar desta embrulha o seu estômago.
Você espera ela passar, pois não há mais nada a fazer.
Aos poucos ela diminui, e seu corpo já não é uma barata, nem seu reflexo, uma ampulheta.
O tempo volta a passar.
Ainda meio atordoado, você vai à cozinha tentar tomar seu café da manhã.
O problema, porém, é que ao redor da mesa encontram-se massas orgânicas que mentem compulsivamente para todos e para elas próprias.
Você tenta ignorar, se dirige ao liquidificador e, apesar de desejar colocar a própria cabeça no copo, você coloca todos os livros que leu, todas suas memórias, todos seus momentos, seus sonhos, seus sentimentos, seus conhecimentos e o tempo, para dar um tempero.
A cor da pasta que se formou neste caldeirão de bruxa não é muito agradável, mas você engole do mesmo jeito.
É só então, só então que você percebe que não é tão ruim assim.
Aliás, pelo contrário, o gosto te agrada e você pensa:

A vida é assim.

Depois de tomar sua poção mágica, você olha novamente para a mesa e vê sua família.

Essa visão esculpe um sorriso em seu rosto.

E com o sorriso, você vai à janela e olha o mundo.

Mesmo estando claro, você sente de alguma forma que pode enxergar no escuro.

O mundo é assim - você diz para si mesmo.

Então, você sai de casa para caminhar e, no caminho, vê uma árvore sem folhas.

O que te espanta é o fato de você achar bonito.

Você direciona o olhar para o céu e o acha bonito. Cinza, azul, branco, vermelho, tanto faz, é bonito.

Você continua sua caminhada até o parque, onde você se senta em um banco para ver as crianças brincarem.

Vê-las assim a brincar é como a vida sorrisse para você.

Um sorriso singelo, mas que embrulha você em um sentimento sem nome e te faz dizer:

A vida é assim.

Só porque eu digo que ela não tem sentido nenhum, não quero dizer que não vale a pena ser vivida.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Reflexões




O mundo dança sobre o céu líquido
O céu se estende sobre o infinito
O infinito baila sobre as entrelinhas
As entrelinhas refletem sobre a mente fluida

...

E a recíproca é verdadeira



domingo, 26 de agosto de 2007

Deuses e vermes

Seja você quem for, saiba que esta é a última página de minha vida.

Há oito dias, perdi-me nesta densa floresta.
Há três, a pouca comida que carregava acabou de ser digerida, meu cantil secou e não existe nenhuma fonte de água potável nas proximidades.
Sozinho, com inúteis equipamentos quebrados de orientação, minha esperança morreu antes de mim.

Já não tenho forças para nada, a não ser concluir meu último relato.
Por favor, entregue este diário de viagens para minha sobrinha.
Todas as informações que você precisa para encontrá-la estão contidas neste diário.
Este é o último desejo de um antropólogo que fracassou em

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Um milagre aconteceu.
Lembro-me apenas de ter desmaiado enquanto escrevia.
Não sei ao certo o que houve, mas, quando acordei, percebi que estava confortavelmente deitado sobre uma macia superfície.
Ao abrir os olhos, estava não mais na mata, mas em um quarto de pedra com pessoas estranhas.
Não entendo a língua deste misterioso povo, mas, pelo que entendi, uma dessas pessoas me encontrou desacordado na floresta e me carregou até aqui, onde fui devidamente tratado.
A princípio, achei que estava morto ou tendo alucinações, mas agora que estou bem e saí do quarto, percebo que o que enxergo é real.
O que eu vejo é uma cidade monolítica, lar de pessoas humildes e hospitaleiras com traços indígenas, olhos e cabelos negros e pele morena, a quem devo minha vida e a quem pretendo dedicar meus estudos de agora em diante.


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Estou aprendendo a língua, os costumes e a cultura deste intrigante povo que a sorte me concedeu o privilégio de conhecer.
Não conheci idioma nenhum que se compare em facilidade de aprendizado, pois não existem muitas regras gramaticais e sua escrita baseia-se em desenhos figurativos que, apesar de seguirem algumas simples regras, cada pessoa é livre para desenhar a seu modo.
Quanto à cultura, pelo pouco que pude notar, eles dão um imenso valor à natureza e a todo tipo de conhecimento, desde o campo artístico e emocional ao campo matemático e racional. Sua arquitetura, que se ergue em imensas torres de pedra interligadas por pontes suspensas, certamente requer um preciso conhecimento de engenharia e física.
Seu conhecimento na área de astronomia e medicina também é notável.
Poderia me estender nestes assuntos, mas deixarei para mais tarde, quando tiver estudos mais detalhados.
Por enquanto, estou apenas me esforçando para conseguir me comunicar com eles.


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Curioso.
É assim que me chamam aqui e não sem motivo, afinal, desde o dia em que aprendi a sua língua, não me cansei de interrogar todos sobre tudo.
Curioso.
Em todos estes anos de estudos, jamais conheci um povo como este.
Quanto mais aprendo sobre eles, mais aprendo, na verdade, sobre mim mesmo e meu mundo.
Quanto mais sei sobre eles, mais intrigantes eles se tornam para mim porque, sem sombra de dúvida, eles são únicos.
A primeira prova disto é que apenas em utopias, fantasias de escritores e comunidades que sucumbiram com o tempo temos uma sociedade sem sistema de classes.
Já esta, sobrevive há mais de dois milênios em igualdade social.
Aqui, todos têm acesso a tudo o que esta cidade providencia e a principal razão disto é que não existe idéia de posse.
Tudo é compartilhado porque tudo é de todos e todos são iguais, homens, mulheres, crianças e velhos. Até mesmo eu sou tratado de maneira igual. Minha pele branca, minhas roupas, meus objetos, minha chegada aqui, nada parece ter afetado a vida dessas pessoas.
Já descobri tribos indígenas que me tratavam como um deus, visitei índios hostis, mas jamais conheci nenhuma que me tratasse como um deles.
Para eles, eu sou apenas mais um cidadão, mas que ainda precisa aprender muita coisa.
Tive de aprender, por exemplo, que nesta sociedade não sou uma série de números e não preciso de pedaços de papel para comprovar minha existência, que não posso prejudicar ninguém em meu benefício, que devo respeitar a natureza e que conceitos, idéias e ideais não dividem pessoas em espécies diferentes.
De fato, já aprendi muitas lições, mas ainda tenho muito a aprender.
Em breve, explicar-me-ão a sua religião.


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Hoje de manhã, um garoto de mais ou menos dezesseis ou dezessete anos morreu e eu participei da cerimônia fúnebre.
Posso dizer que aprendi muitas coisas com eles, mas acho que jamais aprenderei a lidar com a morte do modo como eles lidam.
Acho que este é o aspecto mais estranho para qualquer pessoa do mundo nesta sociedade.
Para eles, tudo é um ciclo. Se os rios parassem, a vida acabaria. Se uma árvore não parasse de crescer, ela esgotaria a terra. Se o sol não nascesse, o frio da noite congelaria o planeta e, se não morresse, o calor queimaria tudo que existe.
A naturalidade com que eles encaram a morte é tanta que quando um indivíduo falece, ele não é enterrado nem cremado. O corpo é posto sobre uma grande pedra a cerca de meia hora de caminhada da cidade e aí é deixado para apodrecer e ser comido pelos seres detritívoros.
Comparando com outras culturas, este ato seria como o das muitas sociedades que realizavam sacrifícios animais e humanos para oferecer aos deuses.
Este povo, porém, não realiza sacrifícios, não mata, apenas espera morrer para oferecer a carne para os deuses de sua incomum religião que não sei, na verdade, se posso de fato chamar de religião.
A começar pela transcendentalidade, a vida após a morte.
Para eles, existe vida após a morte, mas de uma maneira mais cética. Nossos corpos serão deteriorados após a morte, absorvidos por outros organismos e estes, por sua vez, também sofrerão o mesmo processo até que em algum momento cada partícula de nosso corpo servirá mais uma vez à vida. É de se concluir, assim, que tudo é feito da mesma matéria, e é por isso que eles demonstram um enorme respeito pela natureza e tratam todos de maneira igual.
Outro aspecto interessante nesta religião é que não existe o ideal de um ou mais seres que criaram o mundo, pois, para eles, a realidade sempre existiu e, se não existiu, como é impossível voltar no tempo, não há porquê buscar respostas que não existem.
Não há nenhum ser superior a quem se deve cultuar e dar oferendas.
Impressionantemente, os “deuses” são os vermes.
Este fato não é completamente isento de sentido, pelo contrário, uma vez que conheço sua religião, sei que são eles quem permitem completar o ciclo da vida.


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Um diário de viagens como este deveria servir para anotar fatos e descobertas para que pudessem ser relatados posteriormente.
Não há, portanto, motivos para eu continuar a escrever, pois não voltarei para casa.
Após a morte de meus pais, jamais tive um lar verdadeiro, pelo menos até o destino me trazer para cá.
Este povo me salvou, me adotou como um deles e deu um novo sentido para minha vida.
Não quero voltar. Se eu voltasse, como retribuição, o mínimo que eu poderia fazer seria voltar e permanecer calado por toda minha existência.
Afinal, seria um crime expor uma civilização inocente como esta às garras da qual eu vim e julgá-la aos olhos dos cegos com que uma vez convivi.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Sonhos


Ela era linda.
Seus cabelos negros e ondulados eram como o mar da meia noite e seus olhos, vivos e verdes como uma folha numa manhã de verão.
Seu vestido, da cor de seus olhos, contornavam suavemente as sensuais curvas de seu corpo.
Ah, sim, ela era divinamente linda e ele estava completamente hipnotizado pela sua beleza.
Foi então que ele notou que só ela e ele estavam naquele café vazio e apenas alguns metros estavam entre a mesa dele e a mesa dela.
Ele quis encurtar esta distância, mas começou a pensar em seus cabelos grisalhos, em seu divórcio em andamento e, cada vez que uma preocupação brotava em sua mente, a distância entre ele e ela aumentava.
Quando estava quase a perdendo de vista, levantou-se desesperadamente e acordou.
Eram cinco para às seis.
Mau humorado, o homem saiu da cama e se vestiu para mais um estressante e entediante dia de trabalho.

Acordou numa segunda-feira, cinco minutos antes do desperador, para
se escravizar durante cinco dias à rotina, ouvindo as mesmas reclamações de sua odiada esposa até o próximo final de semana.
Sabia, porém, que seu tão desejado final de semana seria como os últimos, passaria em casa sozinho assistindo à televisão e resolvendo a burocracia de seu divórcio.
Querendo gritar, apenas deu um suspiro e foi trabalhar.
No fim do dia, voltou para casa, fez tudo o que precisava fazer e se deitou.
Quando abriu os olhos, estava em um parque sentado em um banco.
Olhou ao redor e viu, sob à sombra de uma
verde e densa copa de uma grande árvore, a bela moça com quem sonhou na noite anterior.
Ah, sim, era ela
mesma sentada sobre a grama com o mesmo vestido do sonho da última noite.
Desta vez, o homem logo se ergueu e caminhou rapidamente em direção à mulher, com medo de que ocorresse algo como da outra vez.
Sob à grande árvore, ele se sentou ao lado dela e eles se entreolharam durante muito tempo sem dizer absolutamente nada, e assim permaneceram até serem interrompidos pelo despertador.
Sem dizer nada, despediram-se com um abraço, se olharam mais uma vez e ele acordou.
Acordou, mas passou o dia inteiro pensando na linda mulher com quem sonhou de novo.
Chegou até a se perguntar se estava apaixonado, mas achou ridículo um homem de quarenta e três anos se apaixonar por um sonho, por mais bonito que fosse.
Nesta mesma noite, sonhou novamente com a morena de olhos verdes, mas desta vez eles caminhavam de mãos dadas em uma praia deserta sem fim, molhando seus pés nas
cristalinas ondas verdes do mar.
Ele nunca tinha sentido tanta paz e satisfação, que acabou bruscamente da mesma maneira que no sonho anterior, o despertador tocou e ele saiu para enfrentar seu emprego.
A princípio quis negar, mas no escritório começou a sentir saudades da linda mulher com que estava se encontrando secretamente em seu inconsciente.
Agora ele tinha certeza de que estava apaixonado e ficou preocupado.
Como poderia um homem sério e cético como ele estar tão apegado a uma doce ilusão?
Isso ele não sabia responder, mas esqueceu-se de tudo isso quando chegou em casa exausto, jogou-se na poltrona da sala, inclinou a cabeça e fechou os olhos para poder se encontrar com sua musa onírica, agora em um jardim.
Se abraçaram longamente e, quando se olharam, ele abriu a boca para dizer algo, mas ela delicadamente colocou o dedo indicador em seus lábios antes dele poder emitir qualquer som, sorriu e balançou a cabeça.
Ele sorriu de volta, acariciou a macia pele do rosto de seu sonho e a beijou pela primeira vez.
Inconvenientemente, o despertador mais uma vez interrompeu seu encontro no Éden.
O mesmo ocorreu na noite seguinte e na outra, e assim sucessivamente durante dois meses.
Foram sessenta dias de frustração ao acordar e perceber que tudo era apenas algumas meras lembranças de eventos imateriais, de desejos insaciáveis, de secretos encontros criados em seu inconsciente.
Foram sessenta dias de frustração ao acordar e perceber que ainda estava vivendo o mesmo insuportável cotidiano, vivendo os mesmos dias cinzas, encarcerado na rotina de sua vida sem sentido.
Seus sonhos tinham lhe dado uma nova vida. Sempre verdes, eles brotavam do concreto cinza que ele chamava de realidade.
E então, no sexagésimo primeiro dia, cansado, perdido e louco, o homem pediu demissão, embebedou-se, tomou remédios para dormir e voltou para casa.
Na sexagésima primeira noite depois do primeiro sonho, ele pela primeira vez não sonhou.
Acordou em lágrimas e soluços, mas parou de chorar assim que sentiu uma mão suave abraçá-lo por trás, e logo toda a paz que ele sentiu durante todas as noites nos últimos dois meses o possuiu por completo.
Ele se virou, olhou nos olhos verdes de sua deusa e caiu no mais profundo sono.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Realidade


Nada mais que reflexos e reflexões

domingo, 22 de julho de 2007

Pinguim de óculos


Cotidiano invisível

terça-feira, 17 de julho de 2007

A Urbe

Ando pelas ruas e vejo
Muros invisíveis sob a monolítica atmosfera
Dividindo os mundos da cidade
Pesadas cortinas de ferro translúcidas
Fatiando linhas imaginárias

Ando pelas avenidas e confundo
Arranhacéus com aquários
Árvores com refugiados
Humanos com engrenagens
Desemprego com oxidação

Esta é a urbe e seu ethos
Dias cinzas e noites psicodélicas
Pathos anônimos e patos best-sellers
Dinheiro sujo e consciência limpa
Sonhos azuis que germinam no céu de concreto

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Pasárgada



Nem fica tão longe assim
É só olhar em volta

domingo, 8 de julho de 2007

Um Lugar à Sombra


À sombra da Estação da Luz,
o mendigo pega um trem para a estação Sonho,
o único lugar em que se pode acordar do pesadelo da realidade.


sexta-feira, 6 de julho de 2007

Estação da Luz

Estação em que a luz se converte em sombras poetas

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Uma alegoria


Em uma longínqua data, certamente incerta, a pedra se fez pedra.
Como, porquê, onde e outras questões metafísicas não cabem ao autor discutir neste texto.
Por muitos milênios, a pedra permaneceu pedra e chão, nada mais.
A pedra era a pedra fundamental, e muito tempo depois serviu como base para a vida, o que também não vem ao caso aqui entrar em especulações e outras coisas que se ensinam na escola.
É claro, chegou a sofrer alguns acidentes, que o autor não precisa ressaltar que são geográficos, durante este longo percurso.
Eras e eras em aparente estático equilíbrio, até que em algum lugar na história, por algum capricho da natureza, surgiu sobre ela uma complexa, talvez também complexada e certamente, acho que não existe esta palavra, complexadora criatura que veio mais tarde a se denominar homem, ser humano, homo sapiens entre outras inúmeras subdenominações como João, Maria, José ou mesmo a vizinha, meu amigo e aquele filha da puta, apenas para citar as mais comuns.
Como todos sabemos, esta é uma das mais intrigantes manias de nossa espécie, nomear tudo, até mesmo aquilo que já possui um ou mais nomes, complicar para facilitar.
Outro comportamento natural nosso é fugir do assunto primordial, assim como o autor está a fazer neste momento, portanto voltemos à pedra.
Pelas patas, mãos, membros superiores ou o nome que preferir, dos hominídeos, a pedra tornou-se lança, machado, faiscador, martelo, projétil, enfim, se a pedra fosse gente certemente teria sofrido uma crise existencial.
Esta multipersonalidade não pára por aí, afinal ela não deixou de ser pedra nem montanha e muito menos chão neste momento que mais tarde foi chamado de Idade da Pedra.
Mas assim como qualquer relacionamento, a pedra foi se desgastando, metafórica e literalmente, assim que o homem conheceu outras (matérias), sem nunca abandonar a pedra por completo.
Com a pedra se ergueram casas, castelos, igrejas, templos, palácios, colossos, colunas, estátuas, escadas, estradas entre tantas outas coisas.
Para estes antigos, a pedra não era mais pedra. A pedra era lar, poder, salvação, sustentação, grandiosidade, rota, enfim, a pedra era quase uma mãe para os antigos, se a pedra fosse gente, com toda essa responsabilidade, provavelmente se esqueceria de ser quem era também.
Mas se a pedra fosse mesmo gente, seria alguém muito prepotente, acharia que é todos os deuses, santos e heróis só porque existe toda uma quantidade de gente que a cultuar sua imagem, não aquilo que ela realmente é. Seria quase como estas mulheres que acham que são inteligentes o suficiente para se tornarem políticas porque existe toda uma quantidade de bolhas de testosterona a cultuar sua bunda, ou uma bolha de testosterona e anabolizantes que acha que é inteligente o suficiente para se tornar um político porque, bom, vocês conhecem a história.
Novamente, voltemos à pedra.
Não mudaram muitas coisas desde então no relacionamento entre a pedra e o homem.
Mas para não acabar aqui, talvez cabe citar que além da mania de dar nomes a coisas que já possuem nomes, a espécie humana usa uma mesma palavra significando outras, o que é mais complexo ainda.
Por exemplo, a pedra tem um sentido semântico, não igual, mas meio parecido com uma pedra no sapato em "no meio do caminho tinha uma pedra".
Aliás, já que fiz tantas analogias, a pedra que é mãe de um também é sogra de alguém.
Para um final feliz, cito a feliz da pedra que caiu nas mãos, membros superiores ou o nome que preferir, de algum escultor, como Brancusi, por exemplo.
Aqui sim, a pedra finalmente deixa de ser somente pedra, mas deixa de ser sem deixar de ser pedra.
Pureza, atemporalidade, transcedentalidade, equilíbrio.
Se a pedra fosse gente, teria atingido a iluminação e diria que a pedra, na verdade, é uma só.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Cotidiano

O gatilho de um revólver é acionado exatamente às oito e dez da manhã de algum fuso horário de algum lugar no mundo.

Enquanto a pólvora da cápsula está a queimar, em algum lugar no mundo, um pedreiro está preparando a argamassa, um padeiro amassando a massa do pão, um vendedor abrindo sua loja,
um bebê dando o primeiro passo, uma adolescente dando seu primeiro beijo, um menino aprendendo a ler, um estagiário acordando já estressado, um taxista xingando um motoboy e um desempregado procurando emprego.

Enquanto a bala se move no cano, um faxineiro está limpando o chão, uma mulher comprando sapatos, um estudante tentando olhar a prova de um colega, um artista dando um show de pirofagia, um menino fazendo xixi na cama, um psicólogo atendendo um psicótico e um homem continua em coma.

Quando o projétil finalmente deixa o interior da arma, um ex-prisioneiro sente o sabor da liberdade após 13 anos encarcerado, um velhinho engasga com um pedaço de batata, uma viúva deixa flores no túmulo do falecido marido, um jovem assume sua homossexualidade, uma mulher dá luz a um menino, um viciado injeta heroína, um turista é roubado e um homem bate na esposa.

Enquanto a bala viaja no ar, um mendigo está revirando uma lata de lixo em busca de nutrientes, um obeso oferecendo metade de sua bomba calórica ao seu cachorro, um político abrindo uma conta na Suíça, uma mãe africana caminhando kilômetros para buscar água, uma mulher doando sangue, uma criança passando frio, um rapaz ouvindo seu I-pod e um garoto fumando crack.

Então, o projétil atinge a nuca da vítima. Neste mesmo momento, um executivo tem um infarto, uma mulher tem um orgasmo, um suicida corta os pulsos, uma mulher é estuprada, um menino vê o final do seu jogo de video game, uma menina morre desnutrida, um apaixonado declara seu amor, um casal assina o divórcio, um bêbado bate o carro e um presidente bombardeia uma cidade.

Nada de mais.

Um quarto de segundo como
outro qualquer de um dia como qualquer outro em um mundo como outro nenhum.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Essência

Os sonhos de ontem estão a sonhar
Sem se preocuparem se símbolos são
Se passado seu desejo selvagem
Se passado somente serão

As promessas de ontem estão a soçobrar
Doce e silenciosamente esquecidas
O Sol desperta do suave sono
Sem se sentir saudades da inocência insípida

Essa essência mutante

Sem sombra sem sobra sem saber
Casulo do amanhã irreconhecível
Desperta no crepúsculo um novo ser

domingo, 3 de junho de 2007

A Ampulheta e o Tempo

Areia fina e cacos de vidro espalhados pelo chão.
Isso foi tudo o que restou da ampulheta suicida.
Do alto da mais alta estante, ela se entregou à cruel gravidade e se atirou para a eternidade, onde o tempo não a incomoda mais.
Em momento algum ela hesitou, era incrível o quão obstinada a morrer ela estava para acabar com sua crise existencial.
No começo, era como se cada grão de areia que corria dentro dela tivesse ganhado vida e, como uma criança curiosa, começasse incessantemente e insaciavelmente a fazer perguntas para as quais não encontrava respostas.
Depois, momentos antes do suicídio, tudo fazia sentido, mas ao mesmo tempo, nada mais fazia sentido nenhum.
Na noite anterior, ela estava parada sobre a estante como sempre esteve, mas ouviu algo que jamais ouvira antes.

- O tempo é uma invenção dos homens.

A ampulheta ouviu aquilo e sentiu seus grãos de areia subirem. Permaneceu um momento em silêncio e perguntou:

- O que foi que você disse?
- O tempo é uma invenção dos homens.
- E quem disse isso?
- Eu, o tempo.

O silêncio chegou e durou oito compassos de um tempo qualquer.

- E onde você está? Eu não te vejo.
- Estou em todo lugar e em lugar nenhum. Você não me vê pois não existo, apesar de existir.

A confusão chegou e tocou em fusas de um tempo confuso.

- Eu não estou entendendo nada. Você é inconstante demais.
- Eu sei. Desde que me conheço como tempo tenho ouvido esta mesma reclamação, mas sou teimoso demais para mudar.
- É, você é realmente estranho. Em todo esse tempo, eu nunca vi você por aqui. Pode me dizer desde quando você está aqui e como foi que veio parar aqui?
- Para início de conversa, estranho é você. Diz que me vê e que eu parei aqui, me escuta e ainda conversa comigo.
- Tá, tá, pode me dizer logo por que é que você está aqui?
- Sempre estive aqui, mas acabei de chegar. Acho que alguém me perdeu.
- Quem te perdeu?
- Todos, mas ninguém.
- Você é louco.
- Alguns dizem que sou dinheiro, outros dizem que sei voar. Já eu, acho que sou mera invenção dos homens.
- Quer fazer o favor de ir embora?
- Não posso. Estou aqui, mas não existo, não tenho como ir embora.
- Então cale-se e me deixe em paz.
- Ora ora, tenha calma. Muitos gostariam de estar em seu lugar e conversar amigavelmente com Deus.
- Cale-se, louco, agora diz que é Deus?
- O verdadeiro, apesar de chamarem outro conceito, que não sou eu, de Deus. Humanos são assim, vivem cometendo equívocos e deixando suas invenções tomarem conta de suas vidas. Depois, inventam objetos pensando que controlarão suas idéias.
- Chega, por favor, me deixe em paz, por favor.
- Mas se nos separarmos, o que será de você?

Foi esta pergunta que traçou o destino da ampulheta.
Juntamente com os primeiros raios de sol, esta pergunta liderou um exército de perguntas que invadiu seu vidro.
Em pouco ou muito tempo depois, juntamente com a primeira luz do dia, uma reflexão profunda sobre a conversa que acabara de ter iluminava seu interior.
Tudo fazia sentido agora, ao mesmo tempo que tudo fazia sentido algum.
Sem dizer mais nenhuma palavra, do alto da mais alta estante ela se entregou à cruel gravidade para entrar na eternidade, onde o tempo não a incomoda mais.
Areia fina e cacos de vidro espalhados pelo chão.
Isso foi tudo o que restou da ampulheta suicida.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Sobre a desobediência civil

Infelizmente a mobilização política dos estudantes da USP e a greve de docentes, alunos e professores continuam sendo tratadas de maneira leviana pela mídia, cuja cobertura não discute criticamente o que de fato está em jogo com os decretos do governador Serra e seus efeitos, ou seja, o desmonte da universidade pública e a cisão entre pesquisa e ensino.

Diante das manifestações de membros da comunidade acadêmica, inclusive de cientistas sociais, desqualificando a estratégia de desobediência civil e ação direta adotada pelos estudantes da Universidade de São Paulo que ocuparam a reitoria, gostaríamos de chamar atenção para alguns pontos.

Os críticos da ocupação enquanto estratégia argumentam que ela fere não apenas o princípio da legalidade,como também a civilidade e o diálogo e que, portanto, trata-se apenas de uma ação violenta, autoritária e criminosa.
As instituições civilizadas que esses críticos defendem, do voto universal para cargos legislativos até os direitos trabalhistas e as leis de proteção ambiental foram frutos de ações diretas, não mediadas pelas instituições democrático-liberais: foram fruto de greves (num momento em que eram ilegais), de ocupações de fábricas, de bloqueios de ruas.
Não é possível defender o valor civilizatório destas conquistas que criaram pequenos bolsões de decência num sistema econômico e político injusto e degradante e esquecer das estratégias utilizadas para conquistá-las.
Ou será que tais ações só passam a ser meritórias depois de
assimiladas pela ordem dominante e quando já são consideradas inócuas?

As ações diretas que desobedecem o poder político não são um mero uso de força por aqueles que não detêm o poder, mas um uso que aspira mais legitimidade que as ações daqueles que controlam os meios legais de violência.
Talvez fosse o caso de lembrar, mesmo para os cientistas sociais, que nossas instituições democrático-liberais são instrumentos de um poder que aspira o monopólio do uso legítimo da violência.
Há assim, na desobediência civil, uma disputa de legitimidade entre a ação legal daqueles que controlam a violência do poder do estado e a ação daqueles que fazem uso da desobediência reivindicando uma maior justiça dos propósitos.

Os críticos da ocupação da reitoria, em especial aqueles que partilham do mesmo propósito (a defesa da autonomia universitária), podem questionar se a ocupação está conquistando, por meio da sua estratégia, legitimidade junto à comunidade acadêmica e à sociedade civil.
Esse é um dilema que todos que escolhem este tipo de estratégia de luta têm que enfrentar e que os ocupantes estão enfrentando.
Mas desqualificar a desobediência civil e a ação direta em nome da legalidade e da civilidade das instituições é desaprender o que a história ensinou.

Seria necessário também lembrar que mesmo do ponto de vista da legalidade, nossas instituições não vão tão bem?
Independente de como a ocupação da reitoria termine, ela já conseguiu seu propósito principal: fomentar a discussão sobre a autonomia universitária numa comunidade acadêmica que permaneceu apática por meses às agressões do governo estadual e que só acordou com o rompimento da ordem.


quarta-feira, 23 de maio de 2007

Diferenças

Em um cemitério, um homem, que foi deixar flores para seus antepassados, viu uma senhora oriental deixando uma tigela de arroz sobre um túmulo.
Achou aquilo muito estranho e não se conteve.
- Desculpe-me senhora, mas quando é que o seu morto vem aqui comer arroz?
Ela ouviu e calmamente respondeu:
- No mesmo dia em que o seu vier cheirar as flores.

domingo, 20 de maio de 2007

Net-art ou Web-art?

Um imenso universo a explorar:

wwwwwwwww.jodi.org
www.absurd.org
www.easylife.org/desktop
www.c3.hu/collection/form
www.snarg.net

divirtam-se.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Mimadinho

Criada como príncipe sem princípios
Mimada criança com complexo de Ares
M
aquinocrata maniqueísta maquiavélico
Cleptomaníaco rei dos sete mares

O mundo não é seu tabuleiro
As flores do vizinho não são do seu quintal
Seus aviões não são de brinquedo
Seus desejos e palavras tem poder letal

Pare de achar que tudo é um jogo
Que seus soldadinhos de plástico
são
Para de roubar doces e dizer que foi um ogro
O Leão de Fajullah nunca será de estimação

segunda-feira, 14 de maio de 2007

The Dark Side of the Internet

Ainda bem que somos todos bem adestrados.
Digo isso porque descobri o quão incrível é a facilidade de obtenção de informações pela internet.
Não que eu não soubesse, e não que você também não soubesse, mas eu quis provar.
Ontem eu digitei no Google: "how to make" e as sugestões que apareceram me impressionaram.
Entre "how to make sushi", "how to make hard boiled eggs", e outras coisas que não vem ao caso, apareceu "how to make bombs".
Fui além e digitei apenas uma inicial.
Em "d" o Google sugeriu "how to make drugs", em "c", "how to make cocaine" e "how to make crack" e em "e", "how to make ecstasy".
Qualquer pessoa com acesso à internet pode se tornar um Macgyver.
Em sites de videos, é possível aprender a fabricar bombas caseiras em garrafas, bombas de fumaça usando bolinhas de ping-pong, destravar cadeados e outras coisas mil.
Qualquer pessoa com acesso à internet pode se tornar um terrorista de primeira.
Existem sites que ensinam a fazer virus, como invadir um computador, como fazer cartas bombas, como extorquir cartões de crédito e outras coisas mil.
Lógico que há sugestões no mínimo estúpidas que aparecem como "how to make friends", "how to kiss", "how to be emo", "how to be anorexic", "how to be cool", "how to be funny" e etc.
Mas se existem pessoas frustradas o suficientes para entrar nesses sites, imagine então o número de pessoas que não buscam informações nocivas para os outros.
Não digo que deveria haver uma censura, além de ir contra a liberdade de expressão, seria inútil, afinal, quem quer qualquer informação consegue de um jeito ou de outro, mas pelo menos deveria ter um filtro ou no mínimo tirar as sugestões do Google.
O verdadeiro problema aqui é que a internet ensina, mas não educa.
E quem é que educa?

domingo, 13 de maio de 2007

Fight Club

Se você está lendo esse aviso, então isso é para você.
Cada palavra lida deste texto inútil é um segundo perdido da sua vida.
Você não tem mais nada para fazer?
Sua vida é tão vazia que você não consegue vivê-la melhor?
Ou você está tão impressionado com a autoridade que você respeita todos aqueles que a exercem em você?
Você lê tudo o que deveria?
Pensa tudo o que deveria?
Compra tudo o que lhe dizem para comprar?
Saia do seu apartamento.
Pare de comprar tanto e de se masturbar tanto.
Peça demissão.

Comece a brigar.
Prove que você está vivo.
Se você não fizer valer pelo seu lado humano, você se tornará apenas mais um número nas estatísticas.
Eu vejo aqui as pessoas mais fortes e inteligentes.
Vejo todo esse potencial desperdiçado.
A propaganda põe a gente pra correr atrás de carros e roupas.
Trabalhar em empregos que odiamos para comprar merdas inúteis que nunca precisamos.
Desperdiçar nossas vidas estressados para dar dinheiro às multinacionais que já cagam dinheiro há muito tempo.
Somos uma geração sem peso na história.
Sem propósito ou lugar.
Nós não temos uma Guerra Mundial.
Nós não temos uma Grande Depressão.
Nossa Guerra é a espiritual.
Nossa Depressão são nossas vidas.
Fomos criados pela tv para acreditar que um dia seriamos milionários, estrelas do cinema ou astros do rock.
Mas não somos.
E mesmo se fossemos, seria realmente importante?
Aos poucos tomamos consciência do fato.
E ficamos muito, muito putos.
Você não é o seu emprego.
Nem quanto ganha ou quanto dinheiro tem no banco.
Nem o carro que dirige.
Nem o que tem dentro da sua carteira.
Nem a porra do uniforme que veste.
Você é a merda ambulante do mundo que faz tudo para chamar a atenção.
Nós não somos especiais.
Nós não somos uma beleza única.
Nós somos da mesma matéria orgônica podre, como todo mundo.
Mude isso.
Já se perguntou por que você deve ficar rico?
Já se perguntou se seus sonhos são realmente seus?
Já se perguntou se sua vida é realmente sua?
Já se perguntou por que sua vida deve ser assim?
Já se perguntou o quão é necessário o que você consome?
Já se perguntou o que realmente é a felicidade?
Liberte-se.
Ou continue e seja mais um número nas estatísticas.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Incoerentes

Todos reclamam da política no Brasil.
Pena que ninguém se lembra em quem votou nas eleições passadas, só em quem votou no paredão do Big Brother.
Virou moda falar em meio ambiente.
Mas ninguém recicla o lixo, caminha ou usa bicicleta ao invés do carro nem economiza nada. Parece que todos querem voltar à natureza, mas ninguém quer ir a pé.
Ninguém é racista, mas todos fecham o vidro do carro rapidinho se aparece um negro.
Reclamam da falta de honestidade dos outros,mas subornam o guarda para não tomar multa.
Muita gente prega igualdade.
Mas ninguém quer abrir mão de nada, se o MST invade as terras do vovô, eles têm de morrer, capitalismo e consumismo são legais e não têm tempo para ajudar fazendo trabalho voluntário em comunidades carentes.
Aliás, ninguém tem tempo para nada também.
Afinal, metade do tempo livre é para encaminhar correntes, power points, entrar no orkut para entrar em comunidades do tipo "Eu tenho orkut, e daí?" e escrever falsos elogios em longos e inúteis testimonais. Afinal, hipocrisia é o que há de melhor.
Imagine, então, ter tempo para ler livros.
Pfff, tempo para ler é sagrado para Veja, Caras e Mangás. Sem contar a "leitura" da Playboy, que é a única coisa que certas pessoas "lêem".
Se eu leio um livro e recomendo, eu sou chamado de "Intelectualzinho", assim, pejorativamente.
Por falar em "intelectualzinho", até mesmo escrever certo virou coisa de idiota.
Questionamentos filosóficos, então, é coisa de alienígenas.
E esse bando de filisteus?
O conhecimento que têm do significado dessa palavra é o mesmo que eles têm de arte.
Se recomendam um livro é mais um maldito auto-ajuda, Paulo Coelho ou Harry Potter.
Não é a toa que os Best-Sellers são coisas do gênero "10 segredos das pessoas felizes", "Como manipular seus empregados" e etc.
Bom, e são esses mesmos filisteus anti-intelectuaizinhos que vão ser os ricos que mandarão no mundo.
Hum, há um tempo tenho desconfiado de que as pessoas acham que se alguém ficou rico, junto com os zeros na conta do banco, o intelecto dela aumentou também.
Ora ora, conheço gente da FEA e da POLI que vota no Maluf.
Ricos, entraram na USP, portanto "inteligentes", e votam no Maluf.
Hahahahahahahaha!!! Inteligentes!!! hahhahahahahaha!!!!

terça-feira, 8 de maio de 2007

Mitologia

Prometeu criou os homens e lhes deu o fogo
Castigado pelos deuses e esquecido pelos filhos
Homens criaram teorias e foram dados ao fogo
Abriram a caixa de Pandora e construiram trilhos

Vivem como arqueiros cegos
Hércules tetraplégicos
Velhos sem histórias para contar
Guerreiros sem batalhas para se lembrar

Rezar não os salva da realidade
Nem os traz a imortalidade do Olimpo
Semideuses e vermes no reino de Hades
Bacanais, guerras, orgias e ritos

O heroísmo pode trazer o castigo no monte Cáucaso
Revoluções e palavras podem criar um mito
A sorte pode criar lendas como Lázaro
Eu quero apenas a gloriosa morte de Ícaro

domingo, 6 de maio de 2007

Veja, que idiota

Hoje, pouco antes de sair, resolvi dar uma olhada na revista Veja.
Particularmente, não sou um leito assíduo da revista por acreditar em uma certa ideologia que entra em conflito com a visão política dos redatores de Veja.
Recebo, porém, semanalmente a revista em minha casa, pois minha família, infelizmente, tem assinatura.
Bom, isso não vem ao caso.
Acabo, às vezes, me irritando quando leio alguns artigos, colunas como de Diego Mainardi, etc.
Pessoalmente, acho que a revista é tendenciosa, conservadora e elitista, na parte de cultura geralmente não aparece muita coisa boa, tem muitas fofocas e muitas vezes denuncia escândalos por interesse.
O escândalo do mensalão, por exemplo, apareceu alguns meses antes na Carta Capital, mas só a apareceu na Globo e na Veja depois, sabe se lá seus motivos para tal atitude.
Acredito que todos devam ter liberdade de expressão, mas acho maquiavélico uma revista com a tiragem de Veja colocar a visão política deles como a correta de forma sutil, para mim é quase uma lavagem cerebral.
Dizer que o MST é do mal ou que programas sociais é populismo, por exemplo.
Me irritava, mas nunca me irritou tanto quanto hoje.
Dessa vez eles forçaram a barra legal...

"O MR-8, cujo nome faz referência à data da morte de um dos mais frios assassinos da história, o argentino Ernesto "Che" Guevara"


"Uma publicação de igual circulação que pregasse a violência da mesma forma que o panfleto do MR-8 o faz mereceria um anúncio se fosse, digamos, propagandista do nazismo?"

Che Guevara foi o maior psicopata da história da humanidade, mas os presidentes dos EUA não, aliás, muito pelo contrário.
Hora do Povo é um jornal nazista, mas a Veja é neutra, dona da verdade e ainda por cima é vítima.

Ora, vá ser reacionária assim na puta que te pariu.

Isso (não) é design!


Caralho, como esse logo foi aceito, ainda mais para um centro pediátrico?!
Ou em Arlington eles tratam as crianças dessa maneira ou eu tenho a mente poluída.
Só pode ser.



Foto que todo mundo recebe em algum e-mail engraçadinho

Nada é para sempre


Às vezes
O mundo está às avessas
O sorriso, por um fio
A paciência é uma lenda
A vida, um vulcão
Heróis são de areia
Castelos são de cartas
O chão é de vidro
O tempo é como o mar
O medo é como o ar
Os sonhos são velas ao vento
O acaso é o melhor amigo
Os sábios são tolos
Os santos, pecadores
A inocência se prostitui
A pureza se vicia
As máscaras revelam
Os inimigos estendem a mão
A solidão é abrigo
O passado renasce
A felicidade morre

Mas nada é para sempre

Um dia
As chamas se apagam
A tristeza sorri
A felicidade acorda
O caos descansa
A paz toma o poder
A esperança tem herdeiros
A depressão se suicida
O orgulho se desculpa
A preguiça tira férias
A teimosia amadurece

Feridas dóem, mas o tempo as cura
Tempos difíceis declaram guerra,
Mas uma dia seus soldados se cansarão
Problemas são selvagens,
Mas um dia se amansarão
Um dia até mesmo o Sol se apagará
Mas nem por isso ele deixa de nascer todas as manhãs


primeira foto que achei no google

sábado, 5 de maio de 2007

O Tempo


Sobre mim, pensamentos cobrem o sol e anunciam tempestade
Sob mim, a Terra em sua rotineira caminhada
Em mim, o tempo passeia
No asilo dos anos que ficaram velhos
Velhos que reclamam dizendo que o mundo não presta
A saudade se vangloria de seus áureos tempos
Se orgulha de histórias que não contou
De façanhas que Deus duvida
Romances mal escritos são carcomidos
Pelas cinzas de amores trítonos
Lembranças ganham mais sabor envelhecendo na adega
E o porão vai se enchendo de brinquedos antigos
Fotos, nomes, cacarecos e nostalgia
A chuva que faz enchentes é a mesma que faz brotar
Mas há um lugar em que o tempo se esquece de passar
A criança que aqui mora
Observa a chuva em pé lá fora
Espera ela ir se deitar
Vai se sujar na lama
Ver o céu nas poças de pensamentos
Ouvir o verde dos grilos
Respirar o orvalho da grama molhada



foto de Chema Madoz

Indústria Cultural

A Indústria Cultural impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e de decidir conscientemente.

Os valores humanos são deixados de lado em troca do interesse econômico.

O que passou a reger a sociedade foi a lei do mercado, e com isso, quem conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida, talvez, conseguiria sobreviver; aquele que não conseguisse acompanhar esse ritmo e essa ideologia de vida ficava a mercê dos dias e do tempo, isto é, seria jogado à margem da sociedade.

Nessa corrida pelo ter, nasce o individualismo, que é o fruto de toda essa Indústria Cultural.

Tudo se torna negócio.

Enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados culturais.

Um exemplo disso é o cinema.

O que antes era um mecanismo de lazer, ou seja, uma arte, agora se tornou um meio eficaz de manipulação.

Portanto, podemos dizer que a Indústria Cultural traz consigo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno e nele exerce um papel especifico, qual seja, o de portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema.

O homem não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo, ou seja, objeto.

O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho.

Ganha um coração-máquina.

Tudo que ele fará, fará segundo o seu coração-máquina, isto é, segundo a ideologia dominante.

A Indústria Cultura, que tem com guia a racionalidade técnica esclarecida, prepara as mentes para um esquematismo que é oferecido pela indústria da cultura – que aparece para os seus usuários como um “conselho de quem entende”.

O consumidor não precisa se dar ao trabalho de pensar, é só escolher.

É a lógica do clichê.

Esquemas prontos que podem ser empregados indiscriminadamente só tendo como única condição a aplicação ao fim a que se destinam.

Nada escapa a voracidade da Indústria Cultural.

Toda vida torna-se replicante.





Texto adaptado de "Indústria cultural e sociedade"
de Theodor Adorno

Bob Esponja Brasileiro


É rir pra não chorar



Foto que todo mundo recebe no e-mail

Sabedoria


- E depois? Que pretende fazer com toda essa sabedoria?
- Se eu algum dia adquirir sabedoria, creio que serei então sábio para saber o quer fazer com ela.



trecho retirado do livro "o fio da navalha"

foto retirada do site do fotógrafo Chema Madoz

Por Trás da Máscara


Sentimentos cobertos pela hipocrisia
Uma lágrima perdida na chuva
Um anjo com suas asas presas
Pelas correntes dos dogmas
Silenciosos gritos contra a sociedade
Tentando matar a dor
Pensamos ser diferentes
Mas nossa essência é igual

Escondendo o amor
Debaixo das cicatrizes de um coração amargurado
Somos prisioneiros de nós mesmos
Trancados em milhões de máscaras
Escondendo as lágrimas
Por trás do orgulho de ser alguém que não somos
Somos garrafas cheias de mentiras
Trincando a verdade
Quebrando a liberdade

O passado parece longínquo
Mas o vivemos todos os dias
O futuro segue as pegadas
Dos mesmos erros antigos
Sonhamos que nossos sonhos serão realizados
Mas temos medo de mudar a nós mesmos
Sempre vivendo o dia de ontem amanhã

Quem tem olhos em terra de cego
Prefere andar de olhos vendados?
Quando a esperança morre
A liberdade vira prisioneira?
Por trás das máscaras
Você sabe quem você é?
Debaixo da hipocrisia
Você sabe o que quer?

quinta-feira, 3 de maio de 2007

The Real Number of the Beast

6.500.000.000.000 de pessoas no mundo.
211.500 nascem por dia.
Nos próximos 25 anos nascerão mais 2.000.000.000 de pessoas.
Desse total, cerca de 93% nascerão em países em desenvolvimento, vêm para um mundo onde, atualmente...

  • 30.000.000.000 de dólares são gastos numa única estação espacial e recursos muito superiores na pesquisa de vida em outros planetas, enquanto bilhões de seres humanos continuavam agonizando na mais absoluta miséria, em condições de insalubridade e de fome aqui na Terra.
  • 20% da população mundial detêm 82,7% das riquezas, enquanto os 20% mais pobres vivem mergulhados na miséria.
  • O hemisfério norte consome 70% da energia mundial, 75% dos metais, 85% da madeira e 60% dos alimentos.
  • A renda média nos países mais ricos é 37 vezes maior do que a renda média nos países mais pobres. E essa diferença duplicou nos últimos 40 anos.
  • Nos países ricos, menos de 5% das crianças menores de 5 anos estão mal nutridas.
  • Nos países mais pobres, 50% das crianças têm algum problema de saúde por não comer o suficiente.
  • 800.000.000 de pessoas desnutridas no mundo.
  • 11.000 crianças morrem de fome a cada dia.
  • 1.300.000.000 de pessoas no mundo não dispõe de água potável.
  • 40% das mulheres dos países em desenvolvimento são anêmicas e encontram-se abaixo do peso.
  • 1 a cada 7 pessoas morre de fome no mundo.
  • 1 criança morre a cada 7 segundos de fome no mundo.
  • 300.000.000 de adultos são obesos no mundo.
  • 1 litro de óleo combustível usado pode contaminar 1.000.000 de litros de água.
  • 1.000.000.000 pessoas no mundo vivem com menos de 1 dólar por dia no mundo.
  • 2.700.000.000 pessoas lutam para sobreviver com menos de 2 dólares por dia.
  • 114.000.000 crianças não recebem instrução sequer ao nível básico no mundo.
  • 2.600.000.000 pessoas carecem de saneamento básico no mundo.
  • 584.000.000 mulheres são analfabetas.
  • Mais de 6.000 pessoas morrem diariamente por doenças provenientes de água não-potável.
  • Em São Paulo, cada habitante utiliza 250 litros de água diariamente.
  • 32.555 mortes registradas por ano no Brasil por armas de fogo.
  • A poluição na capital paulista provoca 9 mortes por dia.
  • 42.000 pessoas morrem por ano vítimas de acidente de trânsito no Brasil.
  • O ativo dos 3 homens mais ricos do mundo juntos excede o PNB dos 48 países mais pobres do mundo no seu conjunto.
  • A cidade de São Paulo produz mais de 12.000 toneladas de lixo por dia, com este lixo, numa semana, dá para encher um estádio para 80.000 pessoas.
  • Somente 37% do papel de escritório é realmente reciclado, o resto é queimado.
  • Atualmente, a produção anual de lixo em todo o planeta é de aproximadamente 400.000.000 de toneladas.
  • Na Índia morrem todo ano 2.000 de pessoas pela poluição atmosférica. A “Nuvem Marrom Asiática” tem 3 km de espessura.
  • Apenas 1% do óleo consumido no mundo é reciclado.
  • Os problemas ambientais são responsáveis por 25% das mortes anuais no mundo.
  • Existem mais de 800.000.000 carros em todo mundo.
  • 6.000 pessoas morrem por dia de AIDS.
  • 8.200 pessoas são infectadas com AIDS, a cada dia.
  • Só na África há 40.000.000 de órfãos em consequência da AIDS.
  • 1.000.000 crianças morrem por ano, vítimas de malária.
  • Mais de 50% dos africanos sofrem de doenças relacionadas à qualidade da água, como cólera e diarréia infantil..
  • 4 em cada 10 pessoas no mundo carecem de acesso a uma simples latrina.
  • Em média, um canadense utiliza 6 vezes mais água por dia do que um indiano e 30 vezes mais do que um habitante de uma zona rural do Quênia.
  • Maus-tratos matam 16 crianças por dia no Brasil.
  • 80.000 crianças morrem por ano em todo o mundo vítimas de negligência, agressões, abusos e exploração.
  • Cerca de 5.000.000 de crianças e adolescentes com menos de 15 anos trabalham atualmente no Brasil.
  • 75% das crianças agredidas dentro de casa tem menos de 10 anos de idade.
  • 5 imigrantes africanos morrem por dia ao tentar chegar à Europa.
  • Mais de 75.000 pessoas morrem todos os anos por causa do álcool
  • Só na Inglaterra e no País de Gales, 167 mulheres são estupradas por dia.
  • 10% das mulheres no mundo são alvo de estupro.
  • Os 5 maiores vendedores de armas do mundo são EUA, Inglaterra, Rússia, França e China, membros permanentes do conselho de segurança da ONU.
  • A incursão na paranóia nuclear custou ao mundo perto de 4.000.000.000 de dólares em investimentos a "serviço" da humanidade.
  • Apenas 50 anos foram suficientes para uma devastação de mais de 50% das florestas tropicais na América do Sul e em pouco mais de um século, de mais de 70% das florestas do planeta.
  • Enquanto a vida na Terra se manifesta há 3.500.000.000 de anos, em menos de 100 o homem fez toda essa cagada.
  • Apenas 1% do DNA humano difere do DNA dos macacos.


"Somente 2 coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, mas eu não estou tão certo quando a primeira." (Albert Einstein)